Literatura
A Academia Brasileira de Letras (ABL) é vista como uma seleção dos grandes nomes da Literatura Nacional, representando grande honra para cada escritor que a ela pertence. Ela objetiva o cultivo da língua e literatura nacionais. Ao longo deste post iremos saber quando surgiu, quem são os fundadores, nomes que por lá passaram e muito mais!
[Os imortais da ABL. Imagem: Agência Brasil | Reprodução] |
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A CRIAÇÃO
Ao final do século XIX, ainda Brasil Império, o escritor Afonso Celso Júnior, e depois no começo da República, o também escritor Medeiros e Albuquerque, eram favoráveis a ser criada uma academia literária nacional, similar à Academia Francesa. Como existia a chamada Revista Brasileira, de José Veríssimo, já com êxito social e cultural, via-se que já existia um grupo coeso de escritores que poderiam se tornar membros da ABL no futuro.
O escritor Lúcio de Mendonça propôs uma ABL estatal. A ideia não foi aceita pelo governo, de última hora, e então a instituição surgiu e permanece privada.
As primeiras notícias sobre a fundação foram publicadas em 10 de novembro de 1896 na Gazeta de Notícias e em 11 de novembro no Jornal do Commercio. A primeira sessão preparatória ocorreu às 15:00 de 15 de dezembro de 1896, na redação da Revista Brasileira, na época sediada à Travessa do Ouvidor, 31. Já nessa primeira sessão, Machado de Assis foi aclamado presidente.
Em 28 de janeiro de 1897, ano seguinte, houve a sétima e última sessão preparatória, onde compareceram e instituíram a academia:
× Araripe Júnior.
× Artur Azevedo.
× Graça Aranha.
× Guimarães Passos.
× Inglês de Sousa.
× Joaquim Nabuco.
× José Veríssimo.
× Lúcio de Mendonça.
× Machado de Assis.
× Medeiros e Albuquerque.
× Olavo Bilac.
× Pedro Rabelo.
× Rodrigo Otávio.
× Silva Ramos.
× Teixeira de Melo.
× Visconde de Taunay.
× Coelho Neto.
× Filinto de Almeida.
× José do Patrocínio.
× Luís Murat.
× Valentim Magalhães.
× Afonso Celso Júnior.
× Alberto de Oliveira.
× Alcindo Guanabara.
× Carlos de Laet.
× Garcia Redondo.
× Pereira da Silva.
× Rui Barbosa.
× Sílvio Romero.
× Urbano Duarte.
Já havia esses trinta membros, mas a intenção era de serem quarenta, como acontecia na Academia Francesa. Passaram a serem previstos, também, vinte sócios correspondentes estrangeiros. Os membros que já aceitaram o convite elegeram mais dez:
× Aluísio Azevedo.
× Barão de Loreto.
× Clóvis Beviláqua.
× Domício da Gama.
× Eduardo Prado.
× Luís Guimarães Júnior.
× Magalhães de Azeredo.
× Oliveira Lima.
× Raimundo Correia.
× Salvador de Mendonça.
Machado de Assis (Presidente), Joaquim Nabuco (Secretário-Geral), Rodrigo Otávio (Primeiro Secretário), Silva Ramos (Segundo Secretário) e Inglês de Sousa (Tesoureiro) assinaram os estatutos da entidade. Mais tarde, em 20 de julho de 1897, eles estariam numa sala do museu Pedagogium, Rua do Passeio, para a sessão inaugural. Havia, ao todo, dezesseis acadêmicos, dos quais Machado de Assis fez a alocução preliminar, Rodrigo Otávio a leitura da história dos atos preparatórios e Joaquim Nabuco, o discurso inaugural.
Naquele dia, as palavras de Machado de Assis foram:
"Senhores,
Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os mais velhos. É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora que vos agradeço a escolha, digo-vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança.
Não é preciso definir esta instituição, iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso. Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloquência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-vos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão."
Ele presidiria a ABL até morrer, em 1908.
ESTRUTURA FÍSICA DA ABL
A ABL é sediada no Rio de Janeiro, capital do estado. Vinte e seis anos após a criação, ano de 1923, houve a doação de um prédio, réplica do Petit Trianon de Versailles, pelo governo francês. Esse prédio havia sido construído em 1922, com a função original de ser pavilhão da França na Exposição Internacional comemorativa do Centenário da Independência do Brasil.
Foi a primeira sede própria da ABL, e ainda hoje é usado para reuniões regulares entre os acadêmicos. Também acontecem no Petit Trianon as sessões solenes comemorativas e de posse de novos membros.
Ao lado do Petit Trianon, que era o pavilhão francês daquela exposição, havia o pavilhão inglês. O governo doou o terreno onde estava esse pavilhão e nele foi construído o Palácio Austregésilo de Athayde (em homenagem ao presidente da ABL na época).
A inauguração foi em 20 de julho de 1979. A intenção era se ter um prédio moderno para compor o patrimônio da ABL e permitir mais ações culturais.
No Palácio Austregésilo de Athayde, além do espaço cultural, situa-se a Diretoria. Lá também está sediada a Biblioteca Rodolfo Garcia.
CONTEÚDO MULTIMÍDIA
A ABL também possui atividades na área digital, disponibilizando informações interessantes em seu site. Nele é possível conferir o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, tirar dúvidas de ortografia e gramática; ver um pouco dos acervos existentes (arquivístico, bibliográfico e museológico); conferir as edições da Revista Brasileira e episódios de um podcast no Youtube.
POLÊMICAS SOBRE OS IMORTAIS E OS QUE NUNCA FORAM
Ao longo do tempo, os quarenta membros originais foram falecendo e suas cadeiras foram sendo ocupadas por novas pessoas. Houve grandes nomes que entraram na ABL e outros que nunca dela fizeram parte, por diversos motivos.
Para se candidatar, a partir de uma cadeira vacante, é preciso ser brasileiro nato e ter publicado obras de qualquer gênero literário, de reconhecido mérito, ou fora, livros de valor litetário. A possibilidade de se candidatar pode ser por pessoas literatas na forma mais estrita, ou não, o que seguiu, também, os moldes da Academia Francesa, permitindo expoentes como juristas, diplomatas e cientistas, visão defendida por Joaquim Nabuco e contestada por Machado de Assis, quando da fundação da ABL. É possível fazer campanha em busca dos votos.
As cadeiras vacantes são declaradas na Sessão da Saudade e, após, são quinze dias para candidatura por meio de envio de carta ao presidente da ABL. A eleição ocorre trinta dias após aberta a vaga, em escrutínio secreto. Já a posse é acordada entre o novo acadêmico e quem vai recepcioná-lo. O fardão usado é um oferecimento - de praxe - do governo do estado natal dele.
Santos Dumont, Barão do Rio Branco e Oswaldo Cruz foram da ABL. Eles fizeram parte do grupo de notáveis não literatos. Houve jornalistas, filósofos, médicos, cineastas, historiadores, advogados e até ex-presidentes: Getúlio Vargas, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. Juscelino Kubitschek tentou a vaga, mas perdeu de 19 a 20 para Bernardo Élis.
Já Érico Veríssimo, Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade, apesar de serem grandes nomes da Literatura Nacional, nunca sequer se candidataram à ABL. Chegou a haver convites, faltou vontade. Lima Barreto, Jorge de Lima, Mario Quintana e Oswald de Andrade, por sua vez, foram candidatos, mas a falta de traquejo para conduzir as campanhas os fez serem derrotados.
A presença feminina foi pequena ao longo da história da ABL. Foram oitenta anos até ser eleita a primeira mulher, Rachel de Queiroz. Tamanha era a dúvida sobre Rachel antes de ser conhecida que Graciliano Ramos acreditava ser o pseudônimo de um homem.
A partir de Rachel, até hoje, foram eleitas:
× Rachel de Queiroz (1977).
× Dinah Silveira de Queiroz (1980).
× Lygia Fagundes Telles (1985).
× Nélida Piñon (1989).
× Zélia Gattai (2001).
× Ana Maria Machado (2003).
× Cleonice Berardinelli (2009).
× Rosiska Darcy de Oliveira (2013).
× Fernanda Montenegro (2022).
Poderia haver uma mulher já na fundação da ABL. Júlia Lopes de Almeida era romancista, jornalista e abolicionista carioca. Apesar de que ela fosse uma excelente escritora e tratasse muito bem de trazer personagens mulheres e protagonistas, o chamado foi seu marido, Filinto de Almeida.
O SALÁRIO DOS ACADÊMICOS
A partir dos recursos obtidos com o aluguel de trezentas salas comerciais do Palácio Austregésilo de Athayde, a ABL oferece algumas remunerações para manter a dedicação a ela entre os acadêmicos. Existe uma espécie de "salário", mais cachês para conferências e reuniões, e um plano de saúde.
AS SUPERSTIÇÕES DE GUIMARÃES ROSA
Guimarães Rosa não acreditava muito que seria imortal sendo da ABL, mas que morreria logo. Ele foi eleito em 8 de agosto de 1963 e adiou a posse enquanto pode, até 16 de novembro de 1967.
No discurso de posse, declarou que "A gente morre é para provar que viveu". Fumante, cardíaco e sedentário, morreu três dias após, de infarto.
DESLIGAMENTO OU VACÂNCIA APENAS COM A MORTE?
No caso de Guimarães Rosa, e de muitos, a ABL só deixou de ser sua instituição com o falecimento. Poucos casos envolveram pedidos de desligamento.
Rui Barbosa teve seu voto anulado na eleição de Dom Silvério Gomes Pimenta. Rui não morava no Rio, então enviou seu voto por carta, contrariando o voto secreto. Magoado, Rui Barbosa pediu para sair.
UM DOS MAIS RECENTES IMORTAIS DA ABL
A sabedoria indígena também está presente na ABL. Na sugestão de post da linha azul 👇🏻, conheça mais sobre Ailton Krenak:
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👉 A trajetória de Ailton Krenak
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