Literatura
Será que o viral agrada todo o mundo? E quando você nem pede e vira famoso?
[Quando o vídeo viralizou. Imagem: freestocks.org / Pexels | Reprodução] |
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LUCROS
"Tenho setenta e sete anos e estou muito gordo. Tenho problema de coração, muitas varizes, asma e pressão alta.
Semana passada aconteceu uma catástrofe. Quebrei a balança na farmácia da rua de casa. Vinha da pastelaria, onde tinha comido cinco pastéis de queijo, quatro de carne e tomado duas garrafas de coca. Da calçada avistei a balança nova, tão bonita. Comia a última batata do saco grande de Ruffles quando entrei para checar meu peso.
Um moleque filmou tudo com um iPhone. Está no YouTube.
Viralizou.
O título do vídeo é Velhão quebra-tudo. A trilha sonora é um funk. A cena repete, repete. Um vexame. Meus filhos e seus amigos viram, meus netos e seus amigos viram. Meus vizinhos e seus amigos viram. Todo mundo que eu conheço viu. Tem mais de cento e cinquenta mil visualizações.
Nas montagens do vídeo, além da balança de farmácia, eu quebro a ponte Rio-Niterói, quebro o Palácio da Alvorada, quebro o Cristo Redentor e mais um monte de lugar famoso.
Em frente ao supermercado uns garotos fizeram uma selfie comigo. Na padaria fui recebido com assobios, aplausos, gargalhadas e gritos de Viva o velhão!
Fiquei famoso com essa exposição humilhante. Meu barbeiro nem cobrou meu corte de cabelo.
Paguei o prejuízo da balança ao seu Osório, dono da farmácia
O garoto do iPhone filmou o momento do pagamento e a minha saída da farmácia, comendo um pacote médio de amendoim. O título deste vídeo é Velhão paga-tudo. Na montagem eu pago os salários atrasados dos professores, pago as aposentadorias atrasadas dos velhotes, pago a dívida externa. A trilha sonora é um pagode. O vídeo do quebra-tudo me rendeu um corte de cabelo gratuito, assobios, aplausos e vivas!, espero que o vídeo do paga-tudo me renda muito mais."
MOTTA, Alê. Velhos. São Paulo: Reformatório, 2020. p. 27-28.
E PARTINDO PARA O ESTUDO DAS FIGURAS DE LINGUAGEM
O texto de Alê Motta é bem numa linha tênue da realidade dos nossos vídeos virais, com uma pitada de exagero para reforçar a ideia das consequências da exposição. Além desse recurso, existem as chamadas figuras de linguagem. Na sugestão de post da linha azul 👇🏻, você entende melhor sobre elas:
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E AINDA MAIS PARA VOCÊ:
👉 Figuras de linguagem e músicas
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