Vai mais um pão na chapa?

Literatura

 

A vida tem várias reviravoltas, podendo nos levar aos caminhos mais curiosos. Onde a gente se viu ontem, pode ser que estejamos amanhã. E aí?! Vai mais um pão na chapa antes de começar a ler esse conto de Mestre Tadeu Barista?

 


Muito delicioso esse pão mesmo, só poderia ser sucesso!
[Uma história deliciosa! Imagem: Dipães | Reprodução]


 

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VAI MAIS UM PÃO NA CHAPA?

 

“A lancheria da esquina era uma extensão da casa de Robson: na verdade, de tanto tempo que passava por lá, acabou se transformando em sua segunda casa. Robson trabalhava como chapeiro, o dia todo, e fazia os mais diversos lanches, do tradicional pão na chapa ao cachorro-quente, misto quente e “xis”.

 

Os dois primeiros anos da lancheria foram muito prósperos, tanto que o chefe de Robson acabou contratando mais dois chapeiros e rapidamente aumentando a lancheria. Empolgado pelo sucesso, comprou a casa vizinha e anexou ao estabelecimento, deixando-o mais amplo e confortável.

 

Robson vivia com duas pessoas em sua casa: Dona Zefa e Julinha. Dona Zefa é sua querida mãe, aposentada e do lar. Julinha, sua amada filha, estava nos primeiros anos do ensino fundamental. A pequenina é o laço que ficou após o falecimento repentino da amada. Com emprego e podendo trabalhar pertinho de casa, a vida era confortável e o permitia ser chefe de família, provendo o que era necessário à filha e ajudando nos remédios da mãe.

 

A transformação estava por vir. O novo diretor da fábrica de automóveis, que ficava a uma quadra dali, decidiu transferi-la para outra cidade, onde os custos operacionais e a logística de distribuição seriam melhores. Esse fechamento foi impactando, pouco a pouco, o comércio local, pois houve muitos desempregados e outros que decidiram ir trabalhar na nova sede da fábrica.

 

Com os recentes investimentos feitos, e uma queda brusca de demanda, o chefe de Robson não teve condições de manter a lancheria em funcionamento e a fechou. O baque era grande e tempos difíceis estariam por vir, pois a vida era confortável com emprego, mas não era folgada a ponto de fazer uma boa reserva de emergência. Por pior que fosse a notícia do fechamento, era preciso procurar as demais lancherias da cidade, deixar currículos, ou até mesmo trabalhar em outras atividades, como embalador de supermercado: o importante era trazer, de forma digna, o sustento para casa.

 

No domingo seguinte, Alisson, o irmão de Robson decidiu chamá-lo, junto com a sobrinha e a mãe, para almoçarem por lá. Ele queria prestar apoio e oferecer sua ajuda, pedir emprego a conhecidos, enfim, fazer o que fosse possível.

 

Passado o almoço de domingo, não importava onde estivesse, Robson ligava a TV para assistir ao seu programa favorito, um game show que distribuía prêmios em dinheiro após algumas provas de quebra-cabeças, resistência, perguntas e respostas e uma corrida final. Definido o campeão, eram sorteados ao vivo os novos participantes. Aquilo era tão legal! Desde que estreou na TV, ele não havia perdido um capítulo, mesmo que fosse vendo pelo televisor da lancheria.

 

Observando tamanha atenção, Alisson sugeriu que Robson se inscrevesse para participar do programa. Robson não costumava pensar muito em dinheiro, apenas no trabalho e em fechar as contas do mês, mas ouvindo Alisson, Zefa e até a Julinha dando apoio e dizendo que seria bom ganhar um prêmio, por que não tentar?

 

Alisson pegou o celular, preencheu tudo e fez a inscrição do irmão. Depois disso, voltaram para casa. Passou-se um mês e nada de novo emprego, e nada de ser chamado ao programa. Robson não levou totalmente a sério: achou interessante a ideia, mas não levava a fé dos vencedores naquele passo.

 

De repente, uma nova edição do programa, e o sorteado tinha nome e sobrenome conhecidos: Robson seria o próximo participante. Tão logo ocorreu o sorteio, a produção da TV ligou, marcou passagens e providenciou tudo para que ele estivesse no dia e horário da gravação. Só aquele período antes de participar já seria uma aventura. Era a primeira vez em que sairia de sua cidade, o primeiro voo de avião, hotel – tudo novo, experiências para se lembrar por toda a vida.

 

Apesar de ser fascinante tudo aquilo, era uma enorme pressão. Se não ganhasse, Robson teria de viver temporariamente da aposentadoria da mãe, e ele não queria aquilo, ela já tinha suas despesas e ele sentia a obrigação de sustentar a si e à filha, cujas únicas preocupações deveriam ser de estudar e brincar. A primeira prova, do quebra-cabeças, foi um desastre, pois Robson perdeu por uma grande diferença.

 

Antes de começar a segunda prova, foi preciso sentar e respirar. Veio à cabeça a visão de Dona Zefa com uma vela acesa, rezando para São Miguel Arcanjo. Aquilo lhe inspirou a viver o momento presente, o que era essencial naquele momento. O que foi o último mês, ou o que seriam os próximos anos, não poderiam interferir no agora, que seria a sua chance. A transformação se fez e, com foco e sabendo o que faria, Robson venceu brilhantemente da segunda à quarta provas.

 

Ao voltar, Robson não era mais um desconhecido. De selfies a autógrafos, não havia uma pessoa naquela cidade que não houvesse ido conhecer o mais novo ganhador do game show.

 

O prêmio estava na conta bancária e os boletos viriam em breve. Novas provas sucediam e era preciso seguir vencedor. A decisão foi trabalhar com o que ele sabia: comprar um pequeno reboque e passar a vender pão na chapa na frente de casa. O restante do dinheiro iria para uma conta poupança, que era o que ele sabia mexer e confiava.

 

Com alguma divulgação e a onda do momento, Robson voltou a fazer o que gostava e conseguia vender seus lanches para a vizinhança e até pessoas de outros bairros. Eram muito saborosos e havia potencial para crescer, mas o exemplo da lancheria da esquina o desestimulava a tentar algo maior e não conseguir manter.

 

Passaram-se três anos. Robson não era mais famoso, mas os lanches dele mantiveram a fama e sua vida caminhava tranquila novamente. De repente, o celular tocou. A diretora da escola precisara levar Julinha depressa para hospital, após enjoos e até um desmaio, e queria deixar o pai da menina ciente para tomar as providências seguintes.

 

Naquele dia, o reboque ficou trancado e um aviso na tampa foi posto por Dona Zefa. Ao chegar no hospital, Robson tentou conversar com o médico e saber o que houve. Julinha, por fatores genéticos, havia herdado a doença rara que havia vitimado a mãe.

 

O tratamento era muito caro, mesmo para um ganhador de game show. Como Robson priorizara o trabalho e não teve foco em cuidar de seu dinheiro, o baixo rendimento da conta bancária de um lado, e a alta da inflação nos últimos tempos fizeram com que toda a reserva que havia ficado fosse necessária para pagar o tratamento.

 

Não seria momento de pensar no passado, novamente, mas no que era essencial nesse novo momento: a saúde da filha. Todo o dinheiro seria, dessa vez, investido na saúde, e ele não veria mais um amor ser perdido por essa doença. O tratamento se concretizou e a cura foi alcançada.

 

A riqueza havia se esvaído, mas Robson nunca se atreveria a dizer que toda a aventura e a participação no programa não tinham valido a pena. Ele poderia ter ganhado mais dinheiro, mudado de cidade ou até mesmo virado outra pessoa, mas ele via o dinheiro apenas como um meio para conquistar aquilo que era mais importante. A cada desafio que se soma, saía mais forte. Lá, atrás, não sabia como fazer e nem chegou a saber qual a doença da amada. Hoje, pode salvar a filha. No passado, não sabia o que fazer para garantir o seu sustento. Hoje, faz sua vida a cada refeição, e quantas vezes for necessário, perguntará se vai mais um pão na chapa.“

 

Mestre Tadeu Barista

 

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