Licença Poética

Literatura


Quando você tira licença para fazer algo, significa que você consegue autorização para fazer determinado ato dentro das regras pré-existentes, podendo até quebrá-las, segundo algumas condições. Animais são proibidos em alguns estabelecimentos, como aqueles que comercializam alimentos. Entretanto, caso você for deficiente visual e dispor de cão-guia, a regra não será válida justamente por sua condição. 

http://www.oblogdomestre.com.br/2017/11/LicencaPoetica.Literatura.html
[Imagem: UFOPA]



Ideia semelhante ocorre com a licença poética, que seria a escrita de textos contendo erros segundo a norma culta da Língua Portuguesa, com algumas finalidades. Também ocorre licença poética na criação de um ambiente que existe apenas no mundo literário. A licença poética não justifica erros por falta de conhecimento de quem escreve, mas é proposital em função da sonoridade, significado ou outros motivos, ocorrendo na poesia, na literatura, na música e outras artes.

Na música, podemos citar alguns versos de “Inútil”, interpretada pela banda Ultraje a rigor. Com o uso da licença poética, é ressaltada a falha no sistema educacional (com erros de concordância), más escolhas em período eleitoral, dentre outras críticas sociais:

“A gente não sabemos escolher presidente / A gente não sabemos tomar conta da gente / A gente não sabemos nem escovar os dente / Tem gringo pensando que nóis é indigente / Inútil / A gente somos inútil”

Outra licença poética está no cantar de Paula Fernandes, que, em função da rima, ignora a sílaba “ca” de boca, tornando os versos mais sonoros:

“Diga sim e ouça o som / Prove o sabor que tem o meu amor / Cole em mim a tua bo... / Eu te quero, sim senhor”

Em “Esquecido”, Cezar e Paulinho cantam ressaltando 🤔... o “esquecimento”:

“Rudemente me pediu que esquecesse de você / Mas eu sou tão esquecido que esqueci de lhe esquecer”

O grande mestre Joaquim Maria Machado de Assis, em sua obra “Memórias póstumas de Brás Cubas”, inicia usando e abusando da licença poética, a começar pela sua personagem e a dedicatória:

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”

Exceto considerando a crença na psicografia de Chico Xavier, não ocorreriam memórias póstumas, mas biografias por terceiros. O ambiente realista se destaca na dedicatória aos vermes, pois o defunto-autor não teria ninguém melhor para dedicar o livro.

Outro exemplo literário de licença poética ocorre em “Jorge, Um Brasileiro”, de Oswaldo Franca Jr. O texto é feito de forma contínua, com parágrafos extensos, repetições e estórias que parecem não caminhar para um fim coeso. Porém, ao observar o conjunto da obra, podemos perceber um narrador gente-da-gente, afoito em contar sua vida, justificando a estrutura do texto.

Em filmes, novelas e séries de TV podemos ver a licença poética quando pessoas de diferentes nacionalidades falam a mesma língua e se entendem. Não é um contexto real, mas seria cansativo ver traduções o tempo todo, caro ensinar artistas do país a falar línguas desconhecidas, sendo mais simples dar-lhes sotaques e caracterizar com roupas. O tempo é outra licença poética, passando mais rápido ou devagar e se ajustando à estória.

A licença poética faz parte da arte, sendo indissociável. Com ela, reconstruimos realidades através da música, escrita e produção visual, segundo a capacidade criativa de cada um.

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