O que foi o Mobral?

 História

 

O Movimento Brasileiro de Alfabetização ou Mobral foi uma iniciativa governamental para a alfabetização de adultos, substituída mais tarde por outras políticas de ensino de jovens e adultos. Ao longo deste post você vai saber um pouco mais sobre a história do Mobral.

 

Cartaz do Mobral

[Cartaz com o logotipo do Mobral. Imagem: MaisPB | Reprodução]


 

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O INÍCIO DO MOBRAL

 

O Mobral foi bastante conhecido depois de implementado, mas pouco se sabe de como surgiu a ideia. O governo militar foi seu promotor, tendo sido implementado seis anos após o regime começar, ou seja, o Mobral é de 1970.

 

A chave do Mobral era formar mão de obra com maior nível de qualificação a fim de permitir a integração ao mercado de trabalho e adesão das classes populares ao governo. Segundo a imprensa oficial, iria erradicar o analfabetismo em dez anos, por meio de aulas que envolviam leitura, escrita e matemática básica.

 

A atuação começou por adultos. Mais tarde, o programa seria integrado ao ensino regular, nas então quatro primeiras séries do ensino fundamental (hoje primeiro a quinto anos).

 

O contexto do regime militar explica o formato do Mobral e por que ele surgiu. Havia a ideia de centralização educacional e do corte de ideias críticas a desigualdades sociais, em que uma das consequências seria o analfabetismo. Como politicamente tal visão era prejudicial, foi fundamental "corrigir" ideologicamente o processo educacional.

 

Houve um lapso entre a criação do Mobral no governo Costa e Silva (1967) e sua implementação em 1970. No dia 8 de setembro desse ano, Emílio Garrastazu Médici assinou um decreto-lei dando incentivos de até 2 % do Imposto de Renda para empresas que destinassem recursos ao Mobral e amparando escolas particulares que mantivessem cursos gratuitos de alfabetização.

 

Tanto o presidente como o ministro da educação, Jarbas Passarinho, demonstravam-se confiantes no programa. As comunidades dos quatrocentos e oitenta municípios dos quatro mil na época também foram chamadas a se engajarem.

 

O dia do lançamento coincidiu com o consagrado pelas Nações Unidas como de combate ao analfabetismo. Na cerimônia oficial estavam os ministros do Planejamento, da Educação, do Gabinete Civil e o presidente do Mobral, o economista Mário Henrique Simonsen. 

 

Mário Simonsen ressaltou que o número absoluto de analfabetos aumentava, mas na proporção da população, os dados relativos eram de redução. O Brasil ainda era um país com expressiva população rural, onde se concentravam 68 % do total de analfabetos, sendo um desafio ainda maior ensinar essa parcela da população.

 

Os recursos iniciais seriam de quinhentos mil cruzeiros, com 30 % da participação do MEC na Loteria Esportiva. Nos anos seguintes, entrariam os valores do incentivo pelo IR. Oito dias pós-lançamento, Mário pediu a empresários, em encontro, que antecipassem os recursos a deduzir em 1971, para manter o programa e garantir que a meta de alfabetizar quatro milhões e meio de pessoas entre quatorze e trinta e cinco anos num período de três anos.

 

A CELEBRAÇÃO DOS PRIMEIROS FORMADOS

 

Após um ano de Mobral, houve uma cerimônia onde o certificado de conclusão do curso de alfabetização foi entregue ao oleiro José Bento Camargo. Ele estaria representando um milhão de alfabetizados.

 

Na cerimônia, em Jundiaí (SP), havia muitas pessoas, fitas verdes e amarelas, hino nacional, discurso do presidente e corte do bolo gigante e show de Dom e Ravel. José Bento deu seu discurso também.

 

APRENDENDO E DESAPRENDENDO

 

O ensino a adultos possui alguns princípios que diferem do ensino a crianças, como destaca a Andragogia. As metas do Mobral não foram atingidas porque não pensaram adequadamente no ensino e na fixação ao longo do tempo, nem em mudanças na estrutura da educação no país.

 

A ideia de educar para ler e escrever fora de um contexto poderia parecer politicamente adequada para os governos da ditadura militar, mas esvaziou o aprendizado a longo prazo, que se perdia.

 

Em 1975, uma CPI do Senado - em meio à ditadura - questionava o Mobral, com suspeita de irregularidades como manipulação de dados estatísticos de alunos conveniados, manipulação política e desvio de verbas.

 

Paulo Guerra, que foi governador de Pernambuco, chegou a fazer um levantamento na época, em quinze municípios. Dos oitocentos ex-mobrais, apenas oitenta ainda sabiam ler e escrever, fato noticiado no jornal O Globo.

 

No quinto ano do Mobral, Ney Braga, então Ministro da Educação, anunciou que o Brasil erradicaria o analfabetismo até 1980. Houve outras notícias que colocavam o Mobral como sucesso e a política brasileira de alfabetização, mas que não se confirmaram.

 

Em 1979, a fiscalização seria reforçada para evitar situações irregulares, como alfabetizar crianças pelo Mobral no Rio de Janeiro. A divulgação do governo era de nove milhões de alfabetizados em nove anos, dados que seriam desmentidos mais tarde. Perto da queda da ditadura (setembro de 1984), Cláudio Moreira, presidente do Mobral, havia divulgado que apenas dois milhões foram alfabetizados pelo programa.

 

POUCOS RECURSOS OU MUITOS RECURSOS?

 

A estrutura organizacional de governo, por trás do Mobral, foi mudando. No começo, foi subordinado ao Departamento Nacional de Educação (DNE) do Ministério da Educação e Cultura. Ao se tornar um órgão independente, passou a contar com recursos próprios e houve um afastamento de seus idealizadores nas ações dali em diante. As diferentes visões dos membros de governo, entre pedagogos e tecnocratas, contribuíram para as cisões de equipes e mudança de rumos.

 

Até junho de 1985, com a extinção do Mobral, houve um forte dispêndio de recursos públicos e privados. Houve até CPI em plena ditadura.

 

Tentou-se evitar a criação de uma estrutura administrativa, novas salas de aula ou contratações de professores. A ideia de um custo mínimo, dando aulas em clubes, igrejas ou no turno da noite em escolas convencionais, com aulas de voluntários, pode parecer interessante, mas não foi efetiva e não se sustentou. Recursos foram necessários.

 

Outros programas anteriores também não tiveram sucesso, como:

 

× Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos, de 1947.

× Campanha Nacional de Educação Rural, de 1949.

× Campanha Nacional Contra o Analfabetismo, de 1958.

× Mobilização Nacional Contra o Analfabetismo, de 1963. 

 

O Programa Nacional de Alfabetização, que Paulo Freire ajudou a desenvolver, de 1964, teve curta duração. Era um formato mais inovador, porém baseado em senso crítico e cotidiano pessoal, o que era mal visto pelo governo militar.

 

O PROJETO EDUCAR

 

O Projeto Educar viria a ser o sucessor do Mobral. Sua instituição ocorreu no ano de 1985.

 

O QUE SIGNIFICA MOBRAL HOJE?

 

Como era um nível de educação bem básica, como primeiros passos, tudo que é muito simples e até malfeito é chamado corriqueiramente de mobral. Pessoas consideradas não muito inteligentes pelas demais podem receber esse apelido jocoso.

 

A ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS E PAULO FREIRE

 

Voltando às manchetes da mídia e nas redes sociais nas últimas eleições que houve no Brasil, Paulo Freire chegou a conceder uma entrevista para a Folha de S. Paulo. Lá, ele falou sobre suas percepções quanto à educação e o fato de o Mobral ser uma negação à sua proposta de educação.

 

No campo político sim, Paulo Freire era de esquerda. Ele via o capitalismo como uma forma de gerar desigualdades. No lado oposto, achava que realidades de socialismo ditatoriais deveriam cair mesmo, como ocorreu com a URSS. O Capitalismo teria conseguido colocar em si um veio de liberdade, o que o fez predominar, mesmo que isso não seja uma verdade absoluta e não evite pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza.

 

O QUE TERIA SIDO A PROPOSTA DE PAULO FREIRE PARA A EDUCAÇÃO?

 

Muito discutida nos últimos tempos, mesmo sem uma ideia clara do que seria, o método ou proposta de Paulo Freire representou algo inovador na educação. Na sugestão de post da linha azul 👇🏻, relembre quando exploramos essa ideia:

 

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👉 O método ou proposta de Paulo Freire para a Educação

 

 

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