Várias coisas que conhecemos em nosso cotidiano são ou já foram cercados de mistérios, lendas, estórias curiosas, inclusive a mandioca. É uma lenda bem antiga, registrada no livro de José Vieira Couto de Magalhães, de 1876 (e se o livro saiu nessa data, a lenda possui idade superior), e que pode ser lido em versão digital (disponível para download) da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.
Nesta postagem, vamos extrair o trecho correspondente à lenda, para você conhecê-la, e saber um pouco mais sobre!
[Mandiocas após a colheita. Imagem: feraugustodesign/Pixabay]
DEPOIS, VOCÊ PODE LER TAMBÉM
A LENDA DA MANDIOCA
Como as boas lendas, temos uma mocinha, um drama e um toque de realismo-fantástico. Dessa estória indígena, também cabe aquela pitada de integração entre o ser humano e a natureza:
Em tempos idos appareceu gravida a filha d’um chefe selvagem, que residia nas immediações do lugar em que está hoje a cidade de Santarém. O chefe quis punir no autor da deshonra de sua filha, a offensa que soffrêra seu orgulho e, para saber quem elle era, empregou debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos.
Tanto diante dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexivel, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matal-a, quando lhe appareceu em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a moça, por que ella eflectivamente era innocente, e não tinha tido relação com homem. Passados os nove mezes ella deu á luz uma menina lindissima, e branca, causando este ultimo facto a sorpreza, não só da tribu, como das nações visinhas, que vieram visitar a creança, para ver aquella nova e desconhecida raça.
A creança, que teve o nome de Mani, e que andava e fallava precocemente, morreu ao cabo de um anno, sem ter adoecido, e sem dar mostras de dôr.
« Foi ella enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se-a/e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu, e deu fructos. Os passaros que comeram os fructos se embriagaram, e este phenomeno, desconhecido dos Índios, augmentou-lhes a superstição pela planta.
A terra afinal fendeu-se; cavaram-n’a e julgaram reconhecer no fructo que encontraram o corpo de Mani. Comeram-n’o, e assim aprenderam a usar da mandioca.
»
O fructo recebeu o nome de Mani oca, que quer dizer: casa ou transformação de Mani, nome que conservamos corrompido na palavra mandioca, mas que os francezes conservam ainda sem corrupção.
(MAGALHÃES, José Vieira Couto de. O Selvagem. Rio de Janeiro: Typographia da Reforma, 1876, p. 434-435)
Reproduzimos a lenda de acordo com a gramática na época de José Magalhães. Por mais que algumas palavras tenham mudado de grafia, é interessante ver elementos como a concepção sem o ato sexual (presente em outras lendas, como a de Hórus), e a transformação pela Terra que dá frutos e segue, mesmo após a morte.
Não só na vida dos indígenas, mas na de todas as pessoas, a mandioca surge como um maravilhoso alimento que a Terra nos dá. Outros nomes, ou alimentos relacionados, curiosamente também começam com “Mani”, como maniva, maniçoba...
OUTRAS LENDAS BRASILEIRAS
Mais antiga ainda do que a lenda da mandioca
é aquela que conta sobre boitatá/vacatatá, também relacionando pessoas e fenômenos
da natureza. Essa lenda é datada de 1560. Se você quer saber mais desse e de
outros mitos/lendas brasileiros, acesse o link sugerido deixado logo abaixo 👇🏻!
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