Arte
São José do Egito é considerada a capital nordestina da poesia popular. Diz-se que além dela, outras cidades próximas também são banhadas por águas que levam poesias.
Vamos descobrir mais sobre onde fica essa cidade? Também lembraremos grandes nomes da poesia popular e veremos algumas poesias que surgiram por lá.
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[Beco da Cultura em São José do Egito. Imagem: Egberto Araújo / Flickr | Reprodução] |
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ONDE FICA SÃO JOSÉ DO EGITO?
São José do Egito é considerada a capital nordestina da poesia popular. Ela fica na região do Sertão do Alto Pajeú, a 402 km de Recife, no estado de Pernambuco.
O município de trinta mil habitantes é parada obrigatória se você gosta de turismo cultural. Quanto ao clima, é uma cidade de verão quente nordestino, e temperaturas de 15 a 20 °C no período chuvoso.
Nas palavras de Wellington de Melo, escritor e coordenador de Literatura da Secretaria de Cultura de Pernambuco, diz-se que "o rio que dá nome à região tem em suas águas algo de mágico, sendo uma espécie de 'rio feiticeiro', que leva poesia para o sangue do seu povo". Isso faz com que São José do Egito seja ícone da poesia popular, mas outras cidades próximas como Tabira, Afogados da Ingazeira, Tuparetama, Itapetim, e tantas outras sejam berços poéticos.
LOCAL HISTÓRICO
São José do Egito guarda muitas histórias. Sua origem remonta ao período imperial.
Em torno de 1830, fazendeiros das cabeceiras do Rio Pajeú resolveram fixar residência no vale meridional da Serra da Borborema, no ponto onde se une o Riacho São Felipe com aquele rio.
Passados alguns anos, esses fazendeiros construíram uma capela em homenagem a São José. O povoado que ali se desenvolveu teve o nome de São José, São José das Queimadas e São José da Ingazeira, sendo distrito do município de Ingazeira.
A emancipação política ocorreu a 26 de maio de 1877 e a instalação a 24 de abril de 1883. O nome São José do Egito foi dado pela Lei provincial nº 1.516, de 11 de abril de 1881.
São José do Egito está na região onde nasceu o cangaceiro Antônio Silvino. Moradores mais antigos lembram das investidas que cangaceiros faziam na região.
Também existem histórias numa velha casa em ruínas onde o jornalista Assis Chateaubriand aprendeu a ler em jornais velhos. Lá ele fazia leituras noturnas queimando óleo para ter a luz necessária. Nem se imaginava que ele teria, entre os anos 1940 a 1960, o maior conglomerado de mídia da época e chegaria a fundar a TV Tupi.
Já na Fazenda São Pedro está o túmulo de João Dantas, assassino de João Pessoa, crime ocorrido no centro do Recife e que precipitou os episódios que desencadearam a Revolução de 1930. João Pessoa era vice na chapa de Getúlio Vargas, que tomaria o poder em golpe de estado.
A fazenda fica a 20 km do centro da cidade e os atuais proprietários estão instalando ali um hotel-fazenda para dar suporte às atividades recreativas típicas da região como pegadas-de-boi, vaquejadas e outras.
TRADIÇÃO NA POESIA POPULAR
São José do Egito é a capital nordestina dos repentistas, além da poesia popular. A cidade é um dos maiores centros de realização de cantorias no Nordeste.
Como a arte é forte em São José do Egito, os cumprimentos entre moradores saem dos comuns "bom dia", "boa tarde", "olá". Não é incomum que o cumprimento seja um "bom dia, poeta", "boa tarde, poeta" e assim por diante.
Na primeira semana de janeiro, durante a Festa de Reis, há um Festival de Cantadores e Poesia Popular. Violeiros fazem parte da programação.
Alguns festivais ocorrem na Casa do Poeta. Ela foi construída em 1997 com recursos do Ministério da Cultura e tem uma razoável estrutura para realização desses eventos.
Murais eternizam poesias, assim como livros e aulas no currículo escolar. Em reportagem do programa Globo Rural, mostrou-se os desafios de manter essa cultura viva, pela chance de se perder quando mantida apenas na oralidade.
O ponto-forte de São José do Egito é o repente, cantiga de viola. Na década de 1970, compositores como Gilberto Gil estiveram no município pesquisando a arte dos violeiros sertanejos.
Nesse mesmo município, a gravadora Marcus Pereira (RJ) colheu grande parte do material para produzir o segundo volume da famosa coleção "Música Popular do Nordeste" (1973). A cidade foi ainda uma das principais fontes de pesquisa para a cineasta Tânia Quaresma produzir o filme "Nordeste, Repente e Canção", também nos anos 1970.
GRANDES NOMES
Por trás da poesia, brotaram grandes nomes que a fizeram. Alguns deles são Antônio Marinho, Lourival, Otacílio e Dimas Batista e Rogaciano Leite. Na nova geração, Clécio Rimas, Caio Meneses, Dudu Morais e Alexandre Morais.
Deles, um dos maiores responsáveis pela projeção de São José do Egito como capital da poesia foi Lourival Batista, o Louro do Pajeú, repentista imbatível no seu ofício. A obra de Batista teve vários registros fonográficos e análises acadêmicas.
Vamos conferir um pouco mais sobre esses grandes nomes?
Louro do Pajeú
Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú, era repentista, conhecido também como o "rei do trocadilho". Nasceu em São José do Egito, a 06 de janeiro de 1915. Concluiu o ensino médio em 1933, no Recife.
De lá, saiu com a viola nas costas, para fazer cantorias. Fora essas cantorias, foi um malsucedido banqueiro do jogo do bicho. Era temido pelos competidores por ser satírico e rápido no improviso.
A família também era de repentistas: os dois irmãos Dimas e Otacílio Batista e o sogro do Antônio Marinho. Também ficou marcado por ser um dos grandes parceiros do paraibano Pinto do Monteiro. Louro morreu em São José do Egito, a 05 de dezembro de 1992.
Antônio Marinho
Antônio Marinho do Nascimento nasceu a 05 de abril de 1887, também em São José do Egito, e morreu na mesma cidade, a 29 de setembro de 1940. Permaneceu praticamente toda a vida com residência fixa na terra natal, mas viajou o Nordeste em suas cantorias.
A maioria dos seus versos não foram registrados em livros ou gravações, ficaram na memória do povo que os presenciou. Ele tinha respostas cômicas e rapidez de improviso.
João Batista de Siqueira
Era famoso pelo apelido de Cancão. Nasceu em São José do Egito, a 12 de maio d3 1912. Em 1950, deixou de participar de cantorias de viola e passou à poesia escrita. É um caso interessante, pois vários poetas locais, mesmo hoje, ainda não dominam a escrita. Sua obra já foi classificada como uma versão popular da obra de autores como Castro Alves, Fagundes Varela ou Casimiro de Abreu.
Cancão frequentou pouco a escola, na época não chegando ao chamado "segundo livro". Era agricultor e chegou a atuar como oficial de Justiça em sua cidade, por nomeação. Lá ficou até falecer, em 05 de julho de 1982.
As poesias de Cancão resultaram na publicação dos seguintes livros: "Meu Lugarejo", Gráfica Editora Nunes Ltda, Recife, 1978; "Musa Sertaneja" e "Flores do Pajeú". Ele também publicou os seguintes folhetos de Cordel: "Fenômeno da Noite", "Mundo das Trevas" e "Só Deus é Quem Tem Poder".
ALGUMAS POESIAS LOCAIS
Falamos tanto nas poesias, mas nada de mostrar ainda. Chegou a hora. Algumas delas estão na tese de Josivaldo da Silva, em Letras, pela UFPB (Silva, 2011).
Em Canto e Poesia
"São José, sem rodeio ou indiretas,
Vejo em ti um tapete de ironia:
És, pra todos, a Terra da Poesia,
Mas não sabes ser terra dos poetas.
É que as joias que tu mesma projetas,
São mais caras em outra freguesia.
São lembradas na morte, a minoria,
Mesmo assim em lembranças bem discretas.
E eu percebo que os vates do teu chão
São produtos, que tens, pra exportação,
E, que em ti, têm mercado bem restrito...
Mas que nunca desistem de te amar,
E que falam, com gosto de falar,
Que eles são 'MADE IN SÃO JOSÉ DO EGITO'!"
Poeta Vinícius Gregório
Poesia de Lindoaldo Campos
"Josivaldo veio mostrar
Com amor e competência
A arte e a ciência
Do poeta popular
A ânsia de improvisar
Num congresso ou num terreiro
○ doutor, o cachaceiro,
Versejando o dia-a-dia
○ que é a poesia
Do Nordeste brasileiro."
Poeta Lindoaldo Campos
Poesia de Pinto do Monteiro
"Poeta é aquele que tira de onde não tem
e bota onde não cabe".
Poeta Pinto do Monteiro.
Poesia de Sebastião Marinho
Repentista respeitado
Narra, canta e profetiza
Gera mito, cria lei
Forma lenda e faz pesquisa
Cantador faz tudo isso
Inda canta e improvisa.
Poeta Sebastião Marinho.
Poesia de Rogaciano Leite
Senhores críticos, basta!
Deixai-me passar sem pejo,
Que o trovador sertanejo
Vai seu "pinho" dedilhar..
Eu sou da terra onde as almas
São todas de cantadores:
Sou do Pajéu das Flores
Tenho razão de cantar!
Poeta Rogaciano Leite
Poesia de Jó Patriota
Mesmo sem beber um trago
Sinto que estou delirando
Tal qual cisne vagando
Na superficie de um lago
Se não recebo um fago
Vai embora a alegria
A minha monotonia
Não há no mundo quem cante
Sou poeta delirante
Vivo a beber poesia!
Poeta Job Patriota (Jó Patriota).
Poesia de Geraldo Amâncio
"O mundo se encontra bastante avançado
A Ciência alcança progresso sem soma
Na grande pesquisa que fez do genoma
Todo corpo humano já foi mapeado
No mapeamento foi tudo contado
Oitenta mil genes, se pode contar
A Ciência faz chover e molhar
Faz clone de ovelha, faz cópia completa
Duvido a Ciência fazer um poeta
Cantando galope na beira do mar."
Poeta Geraldo Amâncio.
E QUANDO FALAMOS NA PERPETUAÇÃO DA POESIA DE SÃO JOSÉ DO EGITO
Fala-se que a poesia local é tradição que exige cuidado para se perpetuar. Na sugestão de post da linha azul 👇🏻, você entende mais sobre isso a partir dos conceitos de conhecimento tácito ou explícito:
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