O que fez Pepe Mujica?

 Biografias

 

Pepe Mujica (1935 - 2025) é um dos personagens mais interessantes da história contemporânea, por conta da sua atuação política, sua personalidade e estilo de vida. José Pepe Mujica foi presidente do Uruguai no período de 2010 a 2015, deputado, senador e ministro, além de ex-guerrilheiro.

 

No governo uruguaio, aumentou o salário mínimo em 250 %, reduziu os níveis de pobreza de 37 % para 11%, apoiou sindicatos e o direito à negociação coletiva e também à greve. Claramente uma postura de governo de esquerda, porém diferente de outras linhas políticas mais radicais que existiram.

 

Vamos conferir a vida e obra desse grande líder? Siga na leitura!

 

[Pepe Mujica em seu famoso fusca azul-celeste. Imagem: Fundação Perseu Abramo | Reprodução]

 

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PRIMEIROS ANOS

 

José Alberto Mujica Cordano, ou Pepe Mujica, nasceu no bairro de La Arena, Montevidéu, Uruguai, em 20 de maio de 1935. Seus pais eram Demétrio Mujica Cordano Terra e Lucy Terra, pequenos agricultores e descendentes de famílias basca e italiana, que chegaram ao Uruguai em 1840.

 

Ele ficou órfão de pai bem jovem. José frequentou o ensino fundamental e médio locais numa escola pública de seu bairro. Como chefe de família, ganhou dinheiro com o cultivo e venda de flores.

 

A MILITÂNCIA POLÍTICA

 

No ano de 1956, Mujica iniciou sua militância política no Partido Nacional, quando se tornou secretário geral da juventude.  Ele começou a militar nesse partido por vínculo familiar.

 

Sendo membro do Partido Nacional, visitou a União Soviética. O comunismo lá praticado o decepcionou porque o governo mantinha um padrão de vida incompatível com o resto da população, o que era um contrassenso.

 

Em 1962, deixou o Partido Nacional, junto com Enrique Erro e criou um grupo chamado União Nacional ou "Unión Popular", que trabalhava junto ao Partido Socialista do Uruguai e o Nuevas Bases. 

 

No ano de 1967, ingressou no Movimento de Libertação Nacional, que era um grupo de guerrilheiros clandestinos apelidados de Tupamaros. Viria a chefiar as guerrilhas que, durante os anos 1960, assaltavam bancos e distribuíam dinheiro aos pobres. 

 

Não, você não pensou errado: Hobin Wood existiu. E as ações foram mais intensas do que isso. Na chamada "Tomada de Pando", com a invasão da cidade de Pando, os guerrilheiros ocuparam delegacias, bancos, centrais telefônicas, dentre outros locais.

 

Mujica teria atuação intensa no combate à ditadura militar instalada no Uruguai entre 1973 e 1985. Sofreria, também, as consequências desse posicionamento num regime repressor.

 

José Mujica foi preso quatro vezes, torturado e ficou quase treze anos preso. Ele fugiu duas vezes do Presídio de Punta Carretas. As prisões foram de 1972 a 1985. Nesse último ano, decretou-se anistia a presos políticos e não políticos (por crimes comuns).

 

No período preso, foram onze anos num calabouço. Apesar desse momento mais difícil, aproveitou para estudar biologia, agronomia e veterinária. Uma característica forte dele era sempre se manter estudando. 

 

Após vários anos de reabertura política, ou seja, em outro contexto, ele e outros antigos líderes dos Tupamaros, criaram o "Movimento de Participação Popular (MPP)", dentro da coalizão de partidos de esquerda Frente Ampla.

 

Seria por essa coalizão que ele seria eleito aos mais diferentes cargos políticos uruguaios. Pepe foi deputado, ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca e, por fim, presidente da República.

 

A CARREIRA POLÍTICA

 

No ano de 1994, Mujica foi eleito deputado, e em 1999, senador. Nas eleições de 2004 foi novamente eleito senador, com o maior número de votos. 

 

Em 1° de março de 2005, o então presidente Tabaré Vázquez o nomeou "Ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca". O candidato a sucessão que Tabaré apoiava, no entanto, era Ministro da Economia, Danilo Astori. Apesar disso, foi Pepe Mujica quem saiu vencedor das prévias, e Astori seguiria, mas como candidato a vice.

 

Nessa época, Mujica casou-se com a senadora Lúcia Topolanski. Era companheira de vida e de ideais. O casal não teve filhos.

 

Mais tarde, em 03 de março de 2008, Mujica retornou à sua cadeira no Senado. No ano seguinte, em 28 de junho de 2009, ele foi eleito em segundo turno como candidato presidencial único da Frente Ampla, superando seus concorrentes com 52,02 % dos votos.

 

A posse e mandato começaram no ano seguinte. No dia 1° de março de 2010 foi empossado no Palácio da República do Uruguai. O juramento foi tomado pela própria companheira, Lucía Topolansky. 

 

As posturas políticas de Pepe Mujica foram quanto a posicionar o Uruguai como nação progressista. O salário mínimo subiu 250 % e os níveis de pobreza caíram de 37 % para 11 %.  A intenção era realmente de reduzir em 50 % os níveis de pobreza que se registrava antes de seu governo.

 

No campo trabalhista, apoiou sindicatos, o direito à negociação coletiva e à greve. Em mais contextos, apoiou a legalização do aborto e da maconha. Além desses dois elementos, prestou apoio à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

 

No ano de 2011, posicionou-se contra as operações militares da Líbia. Ainda nesse ano declarou que o presidente venezuelano Hugo Chávez era o governante mais generoso que já conhecera.

 

As posições de Pepe Mujica, pelo estilo austero de vida e declarações humanistas, o tornaram conhecido mundialmente como presidente. Findo seu mandato, em 1° de março de 2015, ele reassumiria uma cadeira no senado e Tabaré Vásquez retornaria à presidência.

 

PRESIDENTE NA SIMPLICIDADE

 

Falando em estilo austero, a ideia de ser presidente era para ser promotor da melhoria da sociedade, e não para usufruir do dinheiro que a posição lhe daria. Ao redor do mundo, chefes de estado possuem residências oficiais e outras mordomias, algo que Pepe Mujica abriu mão.

 

Ele continuou vivendo de forma simples, numa casa com um quarto, na fazenda de sua esposa. A fazenda fica nos arredores de Montevidéu, onde plantavam flores.

 

Lá, eles não tinham empregados domésticos, cozinhavam e lavavam a louça. Havia pouca segurança. 

 

Para se locomover, Mujica seguiu usando seu fusca 1978 azul-celeste. Tinha um estilo informal de se vestir, recusando-se a usar gravata, e manteve-se frequentando os botequins de sempre.

 

Seu salário era doado em mais de 90 %. As doações envolviam obras de caridade e programas de habitação popular.  Essa decisão fez com que a imprensa internacional lhe considerasse o presidente-mais-pobre-do-mundo.

 

Falando sobre isso, em entrevista à BBC, Mujica rebateu esse rótulo. Para ele, "pobres são os que querem sempre mais, que não se satisfazem com nada. [...] Esses são pobres, porque entram em uma corrida infinita. E não terão tempo suficiente na vida."

 

POSTURA DE PEPE MUJICA

 

Quanto à política, Pepe se definia como anarquista e diz que o anarquismo e o liberalismo são primos-irmãos. Ele transitava com desenvoltura entre líderes mundiais antagônicos, como Barack Obama e Vladimir Putin e tinha boas relações com os irmãos Castro e Evo Morales.

 

Seguindo na América, considerava-se amigo de Lula e convivia com Hugo Chávez, embora discordasse de algumas posições dos dois. Segundo ele, não teria guardado ressentimento dos militares. 

 

Pepe era ateu, mas acreditava que a Igreja Católica é uma das instituições mais respeitáveis do mundo. Como ele tinha uma postura voltada à justiça social, e a Igreja atua com projetos sociais, obras de caridade, havia esse alinhamento em comum.

 

SENADOR

 

Entre idas e voltas, Pepe Mujica ainda teve participação política como senador. Em 2015, foi eleito, renunciando em 2018 após alegar: “Estou cansado da longa viagem e me afasto antes de morrer de velho”.

 

Apesar da saída por pensar em sua saúde, logo retornaria. Candidatou-se novamente ao Senado pelo Movimento de Participação Popular (MPP), em 2019, que faz parte da coalizão da esquerda "Frente Ampla".

 

O partido disputou também a presidência, em segundo turno, com o candidato Daniel Martinez. A coalizão de Mujica e Martinez completava quinze anos no poder. Martinez perdeu as eleições para Luis Lacalle Pou, do Partido Nacionalista, também chamado de Partido Blanco.

 

Mujica, por sua vez, foi novamente eleito para o Senado. Em 20 de outubro de 2020, também voltaria a renunciar ao cargo, dizendo: “Sinceramente, estou saindo porque a pandemia está me tirando.” Como ele havia sido diagnosticado com uma doença imunológica crônica, não poderia ser vacinado, e sua saúde mais frágil poderia acelerar seu falecimento.

 

A BIOGRAFIA DE PEPE MUJICA

 

Uma ovelha negra no poder é a biografia oficial do ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica. O livro está disponível em livrarias e em e-commerces como a Amazon. Na descrição da biografia:

 

"Uma ovelha negra no poder é fruto de uma reportagem construída ao longo de décadas que leva a uma singela conclusão: Pepe Mujica é um ícone latino-americano".

 

DOENÇA E ÚLTIMOS TEMPOS

 

Além da doença autoimune, houve um momento mais difícil para José Mujica. Em 2024, Pepe Mujica anunciou a descoberta de um tumor em seu esôfago, mas sem detalhar se seria benigno ou maligno (câncer).

 

No começo de 2025, Mujica afirmou que seu câncer havia crescido muito e que não adiantaria mais fazer tratamentos, logo, ele os abandonaria. Em maio, com a situação mais avançada, a esposa Lucía Topolansky informou que seu esposo estava recebendo cuidados paliativos para evitar a dor. 

 

José Mujica faleceu em Montevidéu, Uruguai, no dia 13 de maio de 2025, vítima do câncer no esôfago, aos 89 anos. A última e dolorida luta – contra o câncer – foi a última luta de todas, de quem ensinou o mundo como um líder pode motivar e ensinar pelo seu modo de ser.

 

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