A saúde dos córregos urbanos


Ciência & Saúde


A descoberta de uma ilha de plástico no meio do Oceano Pacífico, ou a famosa tartaruga sofrendo com um canudo que está dentro de suas narinas são consequências terríveis de nossa falta de cuidado com o meio em que vivemos – seja pelas atitudes que temos, seja por o que deixamos de fazer e tentar aprimorar. São problemas relevantes, mas que podem estar longe de nossos olhos. Então venhamos mais perto de casa. Você já reparou como está a saúde dos córregos e cursos d’água urbanos?

https://www.oblogdomestre.com.br/2018/08/CorregosUrbanos.CienciaESaude.html
[Imagem: Solotrat]



Em nosso país ainda não ocorreu a universalização dos sistemas de saneamento básico que atendem as residências com água potável e coleta com tratamento de esgoto sanitário. Assim, em algumas cidades ainda ocorre o despejo de efluentes urbanos diretamente nesses cursos d’água, que ficam com mau cheiro e aspecto, deixam o ambiente desagradável em suas vizinhanças e se tornam locais propícios para o desenvolvimento de vetores de doenças, com alta carga orgânica.

Outro problema está na qualidade da água pluvial que ajuda a abastecer esses córregos. Quando chove, as águas carregam toda a sorte de impurezas presente na superfície das cidades, como resquícios de lubrificantes, fragmentos de pneus, dentre outras, sem que haja qualquer processo natural de filtragem, visto que a recarga de água é dada por escoamento superficial e não por infiltração, onde águas mais limpas chegam ao lençol e freático e daí aumentam a vazão do curso d’água.

Pensando em água e esgoto podemos ter uma ideia do que se convencionou até hoje como sendo a real função dos arroios urbanos: despachar o que não se quer ver. No espaço natural, eles são belos e sinuosos, variam seu traçado ao longo do tempo, formando meandros. Dentro de nossas cidades, como somos ansiosos por gerar estabilidade em tudo, são retificados, o que pode melhorar o aproveitamento do espaço urbano, mas provoca assoreamentos e elevação da velocidade de escoamento.

Essa elevação de velocidade, associada aos despejos de água pluvial em descarga rápida e com mais contaminantes, junto aos esgotos prediais, tornam o que seria algo maravilhoso em um elemento urbano com rosto de problema. Muitas pessoas acabam enxergando o córrego como aquela “coisa” que transborda e alaga em dias de chuva. Mas é o contrário: é um sinal de um conjunto se medidas erradas que vão se sobrepondo.

E se incomoda, por que não esconder? O lixo de casa a gente esconde na lata, depois na sacola plástica e manda para algum lugar... e deixa de ser problema nosso... será?

O município de São Paulo é um exemplo interessante para pontuar essa ideia. Ferrovias, grandes avenidas ou rios são elementos que podem segregar uma cidade, dependendo do contexto. Como havia a necessidade de vias cada vez maiores, além do aproveitamento de espaço, foi-se canalizando cursos d’água urbanos e construindo edificações e ruas sobre. Unindo-se à alta taxa de impermeabilização do solo, o resultado é conhecido de todos, com os episódios de inundações. Sem contar que, ao longo do tempo, diminui-se a capacidade hidráulica dos condutos fechados onde estão escondidos os córregos.

Por todos esses motivos é que profissionais e pesquisadores das áreas de meio ambiente, engenharia e urbanismo vêm discutindo novas formas de pensar e redesenhar o espaço urbano e as edificações. É preciso retomar o sentido de pertencimento à natureza e seus elementos, trazendo novamente saúde aos córregos e espaços públicos urbanos que permitam essa vivência. E as gerações futuras precisarão estar cientes do que hoje ocorre e de que uma nova visão deverá nortear um futuro não apenas sustentável, mas integrativo (há quem prefira esse termo por trazer caráter restaurador, enquanto sustentável soa como manter o que se tem sem acrescer impactos, segundo algumas vertentes de pesquisa).


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