Brasileiros gastam mais de US$ 8 bilhões com cartão no exterior

 Dinheiro

 

Turismo internacional avança 5,5 % em sete meses; Europa e EUA concentram 80 % dos gastos

 

Turistas brasileiros gastaram US$ 8,2 bilhões (R$ 47,4 bilhões) em viagens internacionais nos primeiros sete meses de 2025, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). O valor é 5,5 % maior em relação ao mesmo período de 2024.

 

As transações foram realizadas com cartões de crédito e débito entre janeiro e julho. A Abecs atribui o aumento à recuperação do turismo internacional e às mudanças nos hábitos de consumo dos viajantes.

 

Europa e Estados Unidos (EUA) absorveram a maior parte dos gastos. Os dois destinos somaram R$ 38,1 bilhões, alta de 17 % sobre igual período de 2024, representando 80,5 % de tudo que os brasileiros gastaram no exterior com cartões até julho. Como o cartão Black funciona  influencia diretamente esse padrão de consumo: a categoria concentra benefícios voltados para viagens internacionais, incluindo acúmulo acelerado de pontos e seguros específicos para turistas.

 

No continente europeu movimentou-se R$ 11 bilhões só no terceiro trimestre de 2024, crescimento de 32 % frente ao mesmo período de 2023. Os Estados Unidos vieram em segundo lugar naquele trimestre, com R$ 7,5 bilhões de gastos e alta de 23,1 %.

 

Os demais continentes registraram crescimento de movimentação em ritmos diferentes, com destaque para a Oceania: R$ 1,4 bilhão, alta de 250,2 %. Em seguida, está o continente asiático com a expansão de 33,7 % (R$ 2,6 bilhões); a África, com 24,3 % (R$ 332,9 milhões); e a América Latina com 8,7 % (R$ 4,9 bilhões).

 

[Indo fazer comprinhas no exterior. Imagem: Freepik | Reprodução]

 

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LEGISLAÇÃO E CONTAS DIGITAIS EM DÓLAR FACILITAM O ACESSO À MOEDA AMERICANA

 

A forma como os brasileiros acessam a moeda estrangeira mudou drasticamente nos últimos anos. A coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (FGV-SP), Claudia Yoshinaga, descreveu o cenário atual ao Estadão: “Hoje temos uma facilidade enorme de ter contas dolarizadas. Diversas instituições financeiras permitem que o cliente tenha conta em dólar e poupanças em moeda estrangeira.” O processo sobre como abrir uma conta digital tornou-se menos burocrático, por exemplo. “Se antes as pessoas faziam o câmbio na véspera da viagem, hoje isso praticamente não existe.”

 

A Lei nº 14.286, de 2021, modernizou a legislação cambial brasileira. O Banco Central reconheceu esse impacto em 2025, quando realizou uma revisão metodológica sobre viagens internacionais.

 

A autarquia reclassificou transações de depósitos no exterior para despesas de viagens, ajustando dados retroativamente de 2022 a 2024 e alterando os números oficiais: as despesas com viagens aumentaram US$ 1,3 bilhão em 2022, US$ 3,4 bilhões em 2023 e US$ 4,8 bilhões em 2024. O total acumulado em doze meses chegou a US$ 19,7 bilhões em 2024.

 

ESTRANGEIROS DEIXAM US$ 3,2 BI NO BRASIL, MENOS DA METADE DO GASTO BRASILEIRO

 

Já os estrangeiros que visitaram o Brasil gastaram US$ 3,2 bilhões (R$ 18,4 bilhões) com cartões até julho de 2025. O Banco Central divulgou os números em agosto. O crescimento foi de 12,1 % sobre o mesmo período de 2024.

 

A receita, porém, não compensou as despesas dos brasileiros no exterior. A balança comercial do turismo fechou julho de 2025 com déficit de US$ 1,6 bilhão. Naquele mês, os brasileiros gastaram US$ 2,3 bilhões fora do país, enquanto os estrangeiros deixaram US$ 696 milhões aqui. O padrão se mantém há anos: o brasileiro gasta mais em outros países do que os turistas internacionais desembolsam no Brasil.

 

A coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, Claudia Yoshinaga, atribuiu o fenômeno a dois fatores principais. “Tivemos uma valorização do real mais recente, que motivou os turistas brasileiros a gastarem lá fora, levando em consideração que o turismo, principalmente nos Estados Unidos, é voltado para o consumo. O brasileiro quer viajar para comprar produtos”, afirmou a especialista ao Estadão. Ela destacou ainda que eventos internacionais no Brasil, como o G20 e a COP30, atraem visitantes estrangeiros.

 

BRASILEIROS GASTAM R$ 2,2 TRILHÕES COM CARTÕES EM SEIS MESES

 

O desempenho do turismo internacional acompanha o crescimento geral dos meios eletrônicos de pagamento. A Abecs informou que, somente no Brasil, durante o primeiro semestre de 2025, consumidores fizeram compras no valor de R$ 2,2 trilhões usando cartões de crédito, débito e pré-pagos. O crescimento foi de 9,9 % sobre o primeiro semestre de 2024.

 

O cartão de crédito liderou tanto em volume quanto em crescimento. A modalidade movimentou R$ 1,5 trilhão, expansão de 14,4 %. O cartão de débito ficou em segundo lugar, com R$ 484,8 bilhões, recuo de 0,3 %. O pré-pago somou R$ 190,1 bilhões, crescimento de 4,8 %, conforme o balanço semestral da associação.

 

Os brasileiros realizaram 23,2 bilhões de transações com cartões no primeiro semestre, aumento de 5,2 %. O número representa média de 128 milhões de pagamentos por dia. O cartão de crédito foi usado em 10,5 bilhões de transações, alta de 10,4 %. O débito teve 8,1 bilhões de operações, queda de 0,5 %. O pré-pago registrou 4,6 bilhões de transações, crescimento de 4,3 %.

 

PAGAMENTO POR APROXIMAÇÃO DOMINA COMPRAS PRESENCIAIS

 

A tecnologia de pagamento por aproximação via sistema de cartões movimentou R$ 883 bilhões no primeiro semestre de 2025. A Abecs registrou crescimento de 37,1 % frente ao mesmo período de 2024. Em cinco anos, essa modalidade saltou de 2,2 % para 71,1 % de participação nas compras presenciais com cartões no Brasil.

 

Os brasileiros fizeram 13,4 bilhões de pagamentos por aproximação no primeiro semestre, alta de 24,2 %. O volume representa 3 milhões de transações por hora, segundo cálculos da Abecs. A associação classifica o pagamento por aproximação como a inovação de maior crescimento no setor de meios eletrônicos nos últimos anos.

 

Outra pesquisa, encomendada pela Abecs ao Datafolha, revelou que 71 % dos brasileiros costumam pagar por aproximação. Entre quem usa a tecnologia, 88 % apontam comodidade e rapidez como principais benefícios.

 

ALÉM DE VIAGENS E COMPRAS, PLANEJAMENTO FINANCEIRO

 

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