Esporte
Você que acompanha futebol já deve ter-se
perguntado: por que times do País de Gales disputam o Campeonato Inglês? Por
que times do Canadá disputam a Major League Soccer (primeira divisão dos
Estados Unidos)? Por que a Federação Israelense de Futebol é filiada à UEFA?
Esse assunto me chamou a atenção e então decidi
pesquisar, pois também gostaria de saber o porquê de times de um país disputam
campeonatos nacionais de outros países. Essas respostas eu achei pesquisando
sites de futebol como o Trivela e o Seleção FC, que você confere a seguir:
.
[Imagem: jplenio/Pixabay] |
A maior parte dos clubes que atuam em outras
ligas o faz na busca de uma liga profissional, algo inexistente em seus países
na época de suas fundações. Há também casos de países que costumavam ter times
em outros esportes e resolveram fazer o mesmo com o futebol, um exemplo extremo
de time que migrou por questão de segurança e um caso de permissividade
política no sudeste asiático.
INGLATERRA
Cardiff
City, Colwyn Bay, Merthyr Town, Newport County, Swansea e Wrexham
Os seis clubes galeses disputam divisões –
profissionais ou semiprofissionais – do futebol inglês. Alguns chegam a ter
destaque, como o Cardiff City (que venceu a FA Cup em 1927) e o Swansea (que
está na Premier League). Eles jogam na Inglaterra porque, quando foram criados,
não havia liga profissional em Gales. Sem espaço em seu país, foram aceitos no
vizinho, ainda que seguissem disputando a Copa de Gales (também composta pelos
clubes amadores do país) até 1995. Outro intruso no futebol inglês era o
Gretna. O clube, sediado quase na fronteira anglo-escocesa, disputava torneios
amadores na Inglaterra. Aos poucos, foi crescendo e chegou a disputar a FA Cup.
Nos anos noventa, teve aceito seu pedido de jogar na liga escocesa.
FRANÇA
Mônaco
Mônaco é o segundo menor país do mundo, e o
primeiro em densidade demográfica. São apenas trinta e seis mil pessoas se
espremendo em 2 km². Com espaço tão escasso, não haveria como surgirem muitos
times e estádios, ainda mais para manter um nível de futebol minimamente
decente. Assim, se torna compreensível que o Mônaco disputasse o futebol como
time francês.
SUÍÇA
Vaduz
Caso semelhante ao de Mônaco. A diferença é
que, em Liechtenstein, ainda existem clubes amadores, que se juntam ao Vaduz
para a disputa da Copa de Liechtenstein.
AUSTRÁLIA
Wellington Phoenix
Único time neozelandês na A-League, o
Campeonato Australiano profissional. Pode parecer estranho (até porque a Nova
Zelândia possui uma liga própria, amadora), mas é algo recorrente no esporte
das duas maiores nações da Oceania. Em um dos esportes mais populares da
Austrália, o Rúgbi League, a liga nacional tem um time neozelandês (New Zealand
Warriors, com Auckland). No Rúgbi Union, mais popular na Nova Zelândia, o
principal campeonato de clubes do hemisfério sul junta cinco times
neozelandeses, cinco australianos e cinco sul-africanos. Essas equipes disputam
exclusivamente o Super Rugby, ficando de fora de seus campeonatos nacionais.
Outro fato curioso sobre a Austrália é que
desde 1º de janeiro de 2006, a Federação Australiana faz parte da AFC (Confederação
Asiática de Futebol). Era uma antiga reivindicação dos australianos e que
acabou por ser aceita pela FIFA. A Austrália joga na Ásia devido a sua
maior evolução no futebol em relação aos outros países oceânicos. Portanto, os
resultados mais expressivos da Austrália só são considerados a partir de 2006.
ESTADOS UNIDOS
Toronto, Impact de Montréal, Vancouver
Whitecaps, Edmonton, Puerto Rico Islanders, Antigua Barracuda
As ligas profissionais dos Estados Unidos
sempre se organizaram de forma independente de federações de seus esportes. São
negócios, que abrem franquias onde pode haver um mercado pouco explorado. A NBA
(basquete) tem um time canadense, a MLB (beisebol) tem outro e a NHL (hóquei no
gelo) tem sete. Isso sem contar os clubes que fecharam as portas ou se mudaram
para território norte-americano. Nesse universo, soou natural que a as ligas de
futebol incluíssem clubes de outros países, ainda mais se esses não tiverem
suas próprias competições profissionais. A MLS tem três equipes canadenses
(Impact, Toronto e Whitecaps), a NASL tem uma canadense (Edmonton) e uma
porto-riquenha (Islanders) e a USL Pro tem uma de Antigua e Barbuda
(Barracuda). As quatro equipes canadenses ainda disputam o Campeonato
Canadense, que nada mais é que um quadrangular que define o representante do
Canadá na Concachampions.
IRLANDA
Derry City
O clube de Londonderry disputava o
campeonato de seu país, a Irlanda do Norte, até a década de 1970. No entanto,
ele é ligado à comunidade católica (tanto que mantém o nome católico da cidade)
e se viu em situação desconfortável quando a disputa religiosa voltou a crescer
no país. Assim, pediu para disputar a liga irlandesa por questão de segurança.
SINGAPURA
DPMM
O Duli Pengiran Muda Mahkota era uma das
forças de Brunei. Em 2005, decidiu competir no futebol malaio para crescer
mais. Como o time pertence a Al-Muttadeh Billah, príncipe de Brunei, a
federação de seu país não criou empecilhos. O pedido foi aceito pela liga
malaia e, em três temporadas, o DPMM conquistou um título da segunda divisão e
teve duas participações decentes na Super League. Em 2009, o príncipe resolveu
trocar a equipe de campeonato, aproveitando a evolução da S-League. A liga
cingapuriana já se diz internacional, tendo equipes de Japão e Malásia (na
verdade, são equipes estrangeiras que fazem acordo e mandam seus jogos em
clubes de Singapura). O DPMM entrou como o primeiro integrante realmente
estrangeiro da S-League, ainda que tenha ficado de fora até 2012 devido a uma
punição da Fifa à federação de Brunei.
Federação
Israelense de Futebol
Israel é membro da UEFA, como, aliás, a
Turquia por razões históricas. Inicialmente Israel pertencia à zona asiática.
Mas os países árabes que também pertenciam a esta zona começaram a recusar
jogar contra equipes israelenses, quer fosse à seleção nacional ou os clubes.
Por isso havia boicotes e jogos anulados entre Israel e os países árabes.
Para resolver o problema, os europeus
aceitaram integrar Israel na federação europeia. E é por isso que Israel
participa efetivamente competições europeias como Eliminatórias para Copa do
Mundo e Eurocopa com sua seleção, e nas competições de clubes como a Liga dos
Campeões e a Liga Europa. Israel participa nas competições da UEFA, mesmo sem
ser membro da União Europeia ou sem estar geograficamente no continente
europeu. São por isso razões políticas que levaram a esta exceção geográfica.
Se por acaso a Catalunha se tornar
independente da Espanha como fica a situação do Barcelona e do Espanyol?
A direção do Barcelona apoia abertamente a
independência da Catalunha, mas é rápida ao afirmar que isso não mudaria a
situação do clube em relação ao Campeonato Espanhol. A pirâmide futebolística
de Espanha e Catalunha continuaria unificada, permitindo a Barcelona e Espanyol
seguirem em La Liga.
Se por acaso Barcelona e Espanyol não
disputarem mais o campeonato espanhol por conta da independência da Catalunha
existem duas situações:
A primeira seria a criação do liga nacional
da Catalunha reunindo essas duas equipes e as demais equipes da região. O
problema é que a maioria das equipes da Catalunha são semiprofissionais e
amadoras, fazendo Barcelona e Espanyol perderem o nível de competividade nas
disputas das competições continentais por disputam uma liga de baixo nível
técnico.
Para manter o nível técnico de suas equipes
Barcelona e Espanyol poderiam disputar o campeonato francês, pois a federação
francesa aceitaria os times da Catalunha, assim como a mesma aceita o time do
Principado de Mônaco que leva o nome do país.
Não é algo novo. Vários clubes disputam
campeonatos nacionais de países diferentes do seu, argumento que é usado por
barcelonistas e espanyolistas que defendem a independência catalã. No entanto,
em nenhum desses casos houve uma separação política entre nações que se
mantiveram unidas no futebol.
Na União Soviética, na Tchecoslováquia e na
Iugoslávia, as repúblicas se separaram em tudo, criando seus próprios campeonatos
esportivos. Mesmo na Bósnia-Herzegovina, que ficou dividida internamente entre
muçulmanos e sérvios, não houve quem se mantivesse como iugoslavo. Os clubes de
etnia sérvia da Bósnia criaram seu próprio torneio, hoje equivalente à segunda
divisão Bósnia.
ESTE É UM ARTIGO ESCRITO POR MATEUS ROSA,
jornalista formado pela UNIFACVEST de Lages/SC. Originalmente, este texto
pertencia ao blog Mundo em Pauta, que atualmente faz parte do Blog do Mestre.
Mateus Rosa ainda é autor do Repórter Riograndense, site que trata da cultura
gaúcha envolvendo curiosidades, tradicionalismo e a agenda local.
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