[cliptomania]
COMEÇAM A CHEGAR PESSOAS TRAZENDO PRESENTES
PARA O RECÉM-NASCIDO
—
Minha pobreza tal é
que
não trago presente grande:
trago
para a mãe caranguejos
pescados
por esses mangues
mamando
leite de lama
conservará
nosso sangue.
—
Minha pobreza tal é
que
coisa alguma posso ofertar:
somente
o leite que tenho
para
meu filho amamentar
aqui
todos são irmãos,
de
leite, de lama, de ar.
—
Minha pobreza tal é
que
não tenho presente melhor:
trago
este papel de jornal
para
lhe servir de cobertor
cobrindo-se
assim de letras
vai
um dia ser doutor.
—
Minha pobreza tal é
que
não tenho presente caro:
como
não posso trazer
um
olho d'água de Lagoa do Cerro,
trago
aqui água de Olinda,
água
da bica do Rosário.
—
Minha pobreza tal é
que
grande coisa não trago:
trago
este canário da terra
que
canta sorrindo e de estalo.
—
Minha pobreza tal é
que
minha oferta não é rica:
trago
daquela bolacha d'água
que
só em Paudalho se fabrica.
—
Minha pobreza tal é
que
melhor presente não tem:
dou
este boneco de barro
de
Severino de Tracunhaém.
—
Minha pobreza tal é
que
pouco tenho o que dar:
dou
da pitu que o pintor Monteiro
fabricava
em Gravatá.
—
Trago abacaxi de Goiana
e
de todo o Estado rolete de cana.
—
Eis ostras chegadas agora,
apanhadas
no cais da Aurora.
—
Eis tamarindos da Jaqueira
e
jaca da Tamarineira.
—
Mangabas do Cajueiro
e
cajus da Mangabeira.
—
Peixe pescado no Passarinho,
carne
de boi dos Peixinhos.
—
Siris apanhados no lamaçal
que
já no avesso da rua Imperial.
—
Mangas compradas nos quintais ricos
do
Espinheiro e dos Aflitos.
— Goiamuns dados pela gente pobre
da Avenida Sul e da Avenida Norte.
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