História
Quem vê as cidades, principalmente as
grandes, percebe que é muito clara a diferenciação entre regiões, havendo
pontos em que infraestrutura urbana e ocupação são extremamente desenvolvidos:
as edificações possuem porte, espaçamento e beleza em cada detalhe. De outro
lado, observamos trechos de periferia onde muitos indivíduos ocupam espaços
bastante restritos, íngremes, sem acesso por ruas ou mesmo sem nenhum serviço
básico de saneamento ou rede elétrica. Pode parecer que estes locais de
periferia são entraves a uma cidade ‘perfeita e planejada’ onde os belos
bairros de boa infraestrutura predominam, mas não são. E eles, assim como a
forma que as cidades se estruturam, tem a ver com a evolução histórica de nossa
sociedade.
[Imagem: Papo de Homem] |
Na estrutura citadina à época das
cidades-estado, as intervenções no meio e o desenvolvimento de materiais eram
menores. Além disso, não havia um preenchimento de espaços de maneira
organizada, tampouco mediante o pagamento de quantias em dinheiro para obter
sua posse. Assim, havia uma série tortuosa de casinhas como se vê até hoje nas
cidades históricas.
Com o passar do tempo, ao se formarem
Estados e o comércio se desenvolver, artesãos passaram a congregar casa e
trabalho nas mesmas edificações, o que, mais tarde, deixaria de ocorrer.
Grandes edifícios de Estado como o Palácio de Versalhes e outros ocupavam
regiões centrais inteiras. Assim, o comércio e as grandes sedes se organizaram
em torno, gerando a divisão espacial de moradia e trabalho.
Já na cidade industrial, grande polo de
atratividade de pessoas, as regiões mais próximas de pontos centrais, ou de
polos de atratividade, ou de serviços, com o lote de terra passando a ser
considerado mercadoria negociável, tornaram-se muito valiosos. O mercado
imobiliário trabalha com muitas variáveis, e valoriza cada um dos itens acima
citados. Porém, quem chega de muda para uma grande cidade, ou não dispõe de
grande quantia de dinheiro, fica relegado a espaços mais periféricos.
Pessoas que fazem serviços menos
valorizados pela sociedade tendem a receber salários menores, e acabam vivendo
em locais onde o seu dinheiro consegue pagar. E é aí que reside a questão.
Justamente as pessoas que vivem em locais menos valorizados pelo mercado
imobiliário e pela sociedade é que mantém viva a força de trabalho necessária
para sustentar os locais mais confortáveis e mais produtivos da sociedade.
Falar em igualdade para todos seria até
mesmo utópico. Mas, diante da intervenção do Estado no cenário urbano, este
deve buscar reduzir a problemática das zonas populares, onde se deveria
garantir, ao mínimo, o provimento de serviços básicos, dando condições mínimas
adequadas para a vivência de pessoas nestes locais que, apesar de tudo, abrigam
um material humano muito rico, que trabalha e luta todos os dias.
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