[cliptomania]
FALAM OS VIZINHOS, AMIGOS, PESSOAS QUE VIERAM
COM PRESENTES, ETC.
—
De sua formosura
já
venho dizer:
é
um menino magro,
de
muito peso não é,
mas
tem o peso de homem,
de
obra de ventre de mulher.
—
De sua formosura
deixai-me
que diga:
é
uma criança pálida,
é
uma criança franzina,
mas
tem a marca de homem,
marca
de humana oficina.
—
Sua formosura
deixai-me
que cante:
é
um menino guenzo
como
todos os desses mangues,
mas
a máquina de homem
já
bate nele, incessante.
—
Sua formosura
eis
aqui descrita:
é
uma criança pequena,
enclenque
e setemesinha,
mas
as mãos que criam coisas
nas
suas já se adivinha.
—
De sua formosura
deixai-me
que diga:
é
belo como o coqueiro
que
vence a areia marinha.
—
De sua formosura
deixai-me
que diga:
belo
como o avelós
contra
o Agreste de cinza.
—
De sua formosura
deixai-me
que diga:
belo
como a palmatória
na
caatinga sem saliva.
—
De sua formosura
deixai-me
que diga:
é
tão belo como um sim
numa
sala negativa.
—
é tão belo como a soca
que
o canavial multiplica.
—
Belo porque é uma porta
abrindo-se
em mais saídas.
—
Belo como a última onda
que
o fim do mar sempre adia.
—
é tão belo como as ondas
em
sua adição infinita.
—
Belo porque tem do novo
a
surpresa e a alegria.
—
Belo como a coisa nova
na
prateleira até então vazia.
—
Como qualquer coisa nova
inaugurando
o seu dia.
—
Ou como o caderno novo
quando
a gente o principia.
—
E belo porque o novo
todo
o velho contagia.
—
Belo porque corrompe
com
sangue novo a anemia.
—
Infecciona a miséria
com
vida nova e sadia.
— Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria.
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