O Capítulo dos chapéus – resenha crítica

Literatura

Você encontra este conto em: Obra Completa de Machado de Assis, vol. II, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.

Conto
[Imagem: Studium Capelli]

 Em um lar praticamente estático devido aos cuidados impecáveis de Mariana, esposa do bacharel Conrado Seabra, ocorre um pequeno conflito entre o casal “naquela singular manhã de abril”.
“— Você é capaz de fazer-me um sacrifício?
— Dez, vinte...”
Ao concluir deste diálogo tão caloroso, Mariana pede que seu esposo troque seu chapéu por um mais bonito, impulsionada pelo asco de seu pai por esse. Conrado não se sente bem com o sacrifício pedido. Deste ponto da narrativa, quebra-se a linearidade textual quando Machado de Assis conta que o sogro apenas aceitava aquele chapéu pela essência de quem o usava, mas quando viu seu genro junto a outros viu usa-lo seu chapéu destacadamente torpe.
Mariana, apesar de apegada à vida caseira, resolve sair de casa, furiosa, pedir conselhos à Sofia, uma amiga que conseguiu “domesticar” o marido e fofoqueira por sinal. “Mariana ouvia com inveja essa bela definição do sossego conjugal” dada pela companheira, muitíssimo senhora de si. Decidiram as duas ir passear, acontecera um fato grandioso como uma mulher tão apegada a uma rígida organização em seu tempo e em seu espaço, como nunca o Rio de Janeiro vira.  Sofia dera uma aula particular sobre chapéus dos mais diferentes tipos, cores, tanto masculinos quanto femininos.  Neste mesmo passeio, vão ao dentista que está com muitas pessoas em sua sala-de-espera. Salas-de-espera são sempre locais onde as pessoas jogam conversas fora mais do que nunca, pois não compartilham da arte de saber esperar.  Também são locais onde se pode encontrar pessoas que conhecemos e não víamos há muito tempo.  Dr. Viçoso, namoradinho de infância de Mariana, é uma dessas pessoas. Sofia conversa com ele, que às vezes lança chamados a conversa direcionados a primeira namoradinha.
Depois vão a mais lugares e mais chapéus pelo caminho...
O conto aqui citado vem nos mostrar a capacidade de as pessoas seguirem rigorosamente seus costumes, como o modo de vestir, comer, trabalhar, etc. e não possuírem o devido respeito com os dos demais.  Mariana era encantada com a posição das coisas dentro de sua casa, como nos diz o trecho do décimo parágrafo: ” Móveis, cortinas, ornatos supriam-lhe os filhos; tinha-lhes um amor de mãe; e tal era a concordância da pessoa com o meio, que ela saboreava os trastes na posição ocupada, as cortinas com as dobras do costume, e assim o resto. Uma das três janelas, por exemplo, que davam para a rua vivia sempre meia aberta; nunca era outra. Nem o gabinete do marido escapava às exigências monótonas da mulher, que mantinha sem alteração a desordem dos livros, e até chegava a restaurá-la.” ; todavia não soube entender que seu marido  também tinha afeição por aquele chapéu por mais “torpe” que fosse. O conto parte para um desfecho bastante interessante por  uma atitude um tanto inesperada de Mariana . 
Veja também: (Literatura) Dom Casmurro
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