No Brasil, como muitos ‘especialistas’ em
TV já sabem, não é tarefa fácil agradar toda uma variedade de gostos e estilos,
o que fez com que ocorresse algum crescimento da TV por assinatura, que cobre
lacunas em alguns horários, ou substitui totalmente a programação da TV aberta
em alguns lares. A Internet e outros meios de entretenimento também cresceram de
forma significativa. Por outro lado, emissoras regionais não conseguiriam ter
maior espaço se não fossem associadas às grandes redes de televisão. Outro fato,
um tanto contraditório diante da realidade de um país como o Brasil, é que o parâmetro
maior de audiência é a medida percentual de televisores ligados em canais na cidade
de São Paulo. Esta métrica faz com que a programação de TV seja fortemente direcionada
ao público paulista. Claro que devemos fazer a ressalva que há um público bastante
diversificado na capital paulista, mas, ainda assim, há características fortemente
regionais.
[Principais emissoras de
TV Aberta do Brasil. Foto: O planeta TV]
Segundo o Painel Nacional de Televisão,
fica clara a diferença de audiência de uma mesma rede em diferentes estados. A
média nacional da TV Globo, líder de audiência, é de 15,9 pontos (percentual
entre todos os televisores), valor que chega a mais de 20 em Florianópolis e
Porto Alegre. Já em Goiânia, esta média cai apenas para 10,7 pontos. A TV
Record possui como locais de destaque Rio de Janeiro e Belém, tendo as menores
audiências nos estados da Região Sul. Já para o SBT, as melhores praças são
Goiânia e Manaus, e as piores Fortaleza e Florianópolis (local este onde sua
afiliada local nem possui cabeça de rede, que se localiza no interior do estado).
Já a TV Bandeirantes possui Fortaleza como melhor praça (onde assume a terceira
colocação) e Brasília como a pior em termos de audiência.
Uma forma de melhorar a TV aberta e
atender aos diferentes públicos seria a adoção das métricas das capitais como
melhor parâmetro, o que já melhoraria o problema do regionalismo paulista-carioca,
onde as grandes emissoras passariam a prestar mais atenção nas diferentes
localidades do país. Esta tendência de descentralização, de alguma forma, já
tem se mostrado mais evidente em telenovelas ambientadas em praias nordestinas,
por exemplo, ao invés de cenários também apenas nesta região. Por outro lado, o
fato de a medição padrão ser apenas na capital paulista faz com que os grandes
clubes de futebol estaduais tenham partidas sem transmissão pela TV aberta nas
capitais e interior dos demais estados.
Outra demonstração clara de que uma programação
regional forte (e claro, de qualidade) surte resultados é a afiliada da TV
Globo nos estados do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a RBS TV, que mantém
excelentes resultados em relação ao resto do país. Nestes locais, a programação
local atinge quinze por cento de todo o conteúdo transmitido, o que é o maior percentual
em relação às demais praças. Também há uma forte presença no interior dos
estados, com afiliadas menores, o que faz com que o público tenha notícias
diretamente de sua metrópole ou centro regional. No último dia 20 de setembro,
se viu mais um caso de flexibilização de cessão de horários, entre alguns mais
recentes, para programas regionais especiais, quando a afiliada gaúcha exibiu ‘Bah
– um programa muito gaúcho’, que deixou um gosto de quero mais nos telespectadores
do estado. Há um programa, às 6h de domingo, com música regional. Todavia, o
horário não agrada aos gaúchos, que desejam ter o programa especial ou que este
programa das 6h fosse colocado no horário do Esquenta!, devido às diferenças
regionais existentes.
Já que não é viável que as emissoras sejam
totalmente regionais ou totalmente nacionais, pois um padrão nacional de
gostos, bem lá no fundo, não existe; é preciso que se olhe no Brasil como um
todo, e que se qualifiquem as emissoras regionais e afiliadas de modo que possam
suprir esta demanda cada vez mais forte neste segmento. E esperar que, o motor
da mudança, que é a audiência nacional, seja levada em conta.
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