"O Guardião - Seu Grande Amor Pode
Estar Mais Perto do Que Você Imagina", de Nicholas Sparks, é mais um
grande sucesso do autor, tendo sido publicado este ano e já disponível nas livrarias.
O autor segue com sua linha romântica, mas com um toque especial: o suspense, o
que surpreendeu a muitos de seus leitores assíduos, na história que envolve
Julie Barenson, a qual, após perder o marido, se vê dividida entre Richard
Franklin (um belo engenheiro) e Mike Harris (seu melhor amigo). Mike não
consegue esconder os ciúmes que sente de Julie, que passa a perceber que não se
trata mais apenas de amizade.
Para você se apaixonar de cara pela história, o Blog do Mestre divulga um trecho
da obra, disponibilizado pelas livrarias onde você pode encontrar mais este
grande sucesso de Sparks, publicado pela editora Arqueiro.
“Quatro
anos depois
Nos anos que se seguiram à morte de Jim,
Julie Barenson de algum modo conseguiu retomar a vida. Mas isso não aconteceu
logo. Os primeiros anos foram difíceis e solitários, mas com o tempo sua perda
se transformou em algo mais suave. Embora amasse Jim e soubesse que parte dela
sempre o amaria, a dor não era mais tão forte quanto antes. Ela se lembrava das
lágrimas e de como a vida se tornara vazia depois da morte dele, mas a dor
dilacerante havia ficado para trás. Agora, quando pensava em Jim, era com um
sorriso no rosto, grata por ele ter feito parte de sua vida. Também se sentia
grata por Singer. Jim tinha feito a coisa certa ao comprar o cão para ela. De
certo modo, o cachorro lhe possibilitara seguir em frente.
Mas neste momento, deitada na cama em uma
manhã fria de primavera em Swansboro, Julie não pensava no apoio maravilhoso
que Singer representara para ela nos últimos quatro anos. Em vez disso,
maldizia a existência dele enquanto se esforçava para respirar e pensava: não
acredito que vou morrer assim. Esmagada na cama pelo meu próprio cão.
Com Singer esparramado em cima dela, Julie
imaginou seus lábios ficando azuis por falta de oxigênio.
– Levante-se, seu cão preguiçoso – disse,
ofegante. – Você está me matando.
Roncando profundamente, Singer não deu ouvidos
a Julie, que começou a se contorcer, tentando acordá-lo. Sufocando sob seu
peso, tinha a sensação de que havia sido enrolada num cobertor e jogada num
lago, como a Máfia costumava fazer com seus desafetos.
– Estou falando sério – disse com
dificuldade. – Não consigo respirar.
Singer enfim levantou sua grande cabeça,
piscou os olhos e a encarou, sonolento.
Por que esse barulho todo? – parecia
perguntar. Não está vendo que estou tentando descansar?
– Saia! – ordenou Julie.
Singer bocejou, encostando seu focinho
frio no rosto dela.
– Ok, ok, bom dia. Agora saia.
Com isso, Singer bufou e se levantou,
pisoteando várias partes do corpo de Julie. Ele ficou mais alto. Mais alto. E
mais alto. Um instante depois, assomava acima dela com um único fio de baba
escorrendo da boca, parecendo ter saído de um filme de terror barato. Meu Deus,
pensou Julie, ele é enorme. A esta altura eu já devia ter me acostumado com
isso. Ela respirou fundo e olhou para Singer, franzindo as sobrancelhas.
– Eu falei que você podia dormir na minha
cama?
Singer costumava dormir em um canto do
quarto de Julie. Mas nas duas últimas noites havia se esgueirado para a cama e
deitado ao lado dela. Ou, mais exatamente, em cima dela. Cão maluco. Singer
abaixou a cabeça e lambeu o rosto de Julie.
– Não, não desculpo – disse ela,
afastando-o. – Nem tente se safar. Você poderia ter me matado. Sabia que tem
quase o dobro do meu peso? Agora saia da cama.
Singer gemeu como uma criança amuada e
pulou para o chão. Julie se sentou na cama, com o peito e as costas doendo.
Olhou para o relógio e pensou: Já? Ela e Singer se espreguiçaram ao mesmo
tempo, antes de Julie afastar as cobertas.
– Venha – chamou. – Vou deixá-lo ir lá
fora antes de eu entrar no chuveiro.
Mas não revire as latas de lixo dos
vizinhos de novo. Eles deixaram uma mensagem grosseira na secretária
eletrônica.
Singer olhou para ela.
– Eu sei, eu sei – disse Julie. – É só
lixo. Mas algumas pessoas são estranhas mesmo.
Singer saiu do quarto e foi até a porta da
frente. Julie o seguiu, girando os ombros para relaxá-los. Fechou os olhos por
apenas um instante. Grande erro.
Ao sair do quarto, bateu com um dos dedos
do pé na cômoda. Ela deu um grito e começou a praguejar, combinando os mais
incríveis palavrões. Pulando num pé só e vestida com seu pijama cor-de-rosa,
tinha certeza de que estava parecendo uma versão louca daquele coelho da propaganda
das pilhas Energizer. Singer apenas lhe lançou um olhar que parecia dizer: Por
que está demorando tanto?
Foi você que me acordou, portanto ande
logo. Tenho coisas a fazer lá fora.
Ela gemeu.
– Não está vendo que eu me machuquei?
Singer bocejou de novo e Julie esfregou o
dedo do pé antes de segui-lo, mancando.
– Obrigada por me ajudar. Você é inútil
numa emergência.
Logo depois de pisar no dedo machucado de
Julie – ela sabia que ele tinha feito isso de propósito –, Singer saiu. Em vez
de se dirigir às latas de lixo dos vizinhos, perambulou pelos terrenos arborizados
e vazios que ficavam ao lado da casa de Julie. Ela o viu virando sua grande
cabeça de um lado para o outro, como se estivesse se certificando de que
ninguém houvesse plantado árvores ou arbustos novos na véspera. Todos os
cachorros gostavam de marcar seus territórios, mas Singer parecia achar que, se
tivesse lugares suficientes para se aliviar, seria coroado o rei de todos os
cães do mundo. Pelo menos isso deixava Julie livre dele por algum tempo.
Deus, obrigada por isso, pensou Julie. Nos
últimos dias, Singer a estava enlouquecendo. Seguia-a por toda parte,
recusando-se a perdê-la de vista por um instante sequer, exceto quando ela o
deixava sair. Julie não conseguia nem lavar a louça sem esbarrar nele uma dúzia
de vezes. E à noite era ainda pior. Na noite passada Singer tivera um ataque de
uivos, intercalados com latidos ocasionais.
Isso deixou Julie pensando se deveria
comprar uma casa de cachorro com isolamento acústico ou uma espingarda. Não que
Singer algum dia tivesse sido... bem, normal. Com exceção da questão de
demarcar o território, ele sempre agira como se fosse humano. Recusava-se a
comer numa tigela, nunca precisava de guia na coleira e, quando Julie assistia
à televisão, subia no sofá e olhava para a tela. Quando Julie falava com ele –
ou melhor, sempre que alguém falava com ele –, Singer inclinava a cabeça e
olhava atentamente, como se estivesse acompanhando a conversa. Na metade das
vezes parecia mesmo entender o que Julie dizia. Não importava o que ela falasse
ou quão absurda fosse a ordem, Singer obedecia. Pode buscar minha bolsa?
Singer voltava saltitando com a bolsa um
momento depois. Pode apagar a luz do quarto? Ele se equilibrava sobre duas
patas e apertava o interruptor com o focinho. Ponha esta lata de sopa na
despensa, está bem? Ele a carregava em sua boca e a colocava na prateleira. É
claro que há outros cães bem treinados, mas não tanto assim. Além do mais,
Singer não precisara de treinamento. Pelo menos não de treinamento formal. Tudo
o que Julie fizera fora lhe mostrar as coisas uma única vez. Para os outros
isso parecia muito estranho, mas Julie gostava disso, pois fazia com que ela se
sentisse um Dr. Dolittle moderno.
Mesmo que isso significasse dizer frases
completas para o cão, ter discussões com ele e lhe pedir conselhos de vez em
quando.
Não era tão estranho assim, era?,
perguntava a si mesma. Eles estavam juntos desde que Jim morrera e durante a
maior parte do tempo Singer era uma ótima companhia. Contudo, o cão vinha
agindo de modo estranho desde que ela voltara a sair e não tinha gostado de
nenhum dos homens que apareceram à sua porta nos últimos meses. Julie esperava
que isso fosse acontecer. Desde filhote Singer tendia a rosnar para os homens
quando os via pela primeira vez. Julie costumava pensar que Singer tinha um
sexto sentido que lhe permitia distinguir os homens bons dos que ela deveria
evitar, mas mudara de opinião recentemente.
Agora não conseguia deixar de pensar que o
cão era uma versão grande e peluda de um namorado ciumento. Isso se tornaria um
problema, concluiu. Precisaria ter uma conversa séria com ele. Singer não
queria que ela ficasse sozinha, queria? É claro que não. Ele poderia demorar um
pouco para se habituar a ter outra pessoa por perto, mas acabaria se
acostumando. Com o tempo, até ficaria feliz por ela. Mas qual seria a melhor
maneira de explicar tudo isso a ele?, perguntou-se.
Julie parou por um momento, refletindo,
antes de perceber as implicações do que estava pensando. Explicar tudo isso a
ele? Pelo amor de Deus! Estou ficando louca.
Foi mancando até o banheiro, para se
arrumar para o trabalho, tirando o pijama no caminho. Em pé na frente da pia,
fez uma careta ao ver seu reflexo no espelho. Olhe só para mim, pensou: tenho
29 anos e estou um caco. Suas costelas doíam quando ela respirava, seu dedão do
pé latejava e ela se deu conta de que o espelho não estava ajudando em nada.
Durante o dia, seus cabelos castanhos eram longos e lisos, mas depois de uma
noite de sono pareciam ter sido atacados por gnomos. Estavam desgrenhados e
eriçados, “em posição de defesa”, como Jim costumava dizer. O rímel havia
borrado seu rosto. Ela estava com a ponta do nariz vermelha e os olhos verdes
inchados por causa do pólen da primavera. Mas uma ducha resolveria isso, não
resolveria?
Bem, talvez não o problema da alergia. Ela
abriu o armário de remédios e tomou um antialérgico antes de se olhar de novo
no espelho, como se esperasse ver uma súbita melhora.
Argh.
Pensou que, no fim das contas, não teria
que se esforçar muito para fazer com que Bob perdesse o interesse nela. Havia
um ano que ela cortava os cabelos dele – ou o que restava deles. Dois meses
antes, Bob enfim criara coragem para convidá-la para sair. Ele não era o homem
mais bonito do mundo – estava ficando careca, tinha um rosto redondo, olhos
muito próximos e uma barriguinha saliente –, mas era solteiro e bem-sucedido e
Julie não saía com ninguém desde a morte de Jim. Ela imaginara que essa seria
uma boa oportunidade para voltar a ter encontros. Ledo engano. Havia um bom
motivo para Bob ser solteiro. Ele não era apenas feio. Tinha sido tão enfadonho
no restaurante que até as pessoas nas mesas próximas a olharam com pena. Seu assunto
favorito era contabilidade. Bob não demonstrara interesse em mais nada: no cardápio,
no tempo, em esportes, em Julie, nem no vestido preto curto que ela usava. Só
em contabilidade. Durante três horas ela o ouvira discorrer sobre deduções de
imposto de renda e distribuições de lucro, depreciações e fundos.
No fim do jantar, quando ele se inclinou
sobre a mesa e confessou que “conhecia pessoas importantes na Receita Federal”,
os olhos de Julie já estavam vidrados. Desnecessário dizer que Bob havia se
divertido muito. Desde então telefonava três vezes por semana perguntando “se
eles poderiam se encontrar para uma segunda consulta, he, he, he”. Sem dúvida,
Bob era persistente. Chato à beça, mas persistente.
Então houve Ross, o médico, o segundo
homem com quem ela saiu. Ross, o belo; o pervertido. Um encontro com ele foi
suficiente, obrigada.
E não podia se esquecer do bom e velho
Adam. Ele disse que trabalhava para o condado, que gostava do que fazia e que
era apenas um homem comum. Julie descobriu que Adam trabalhava nos esgotos. Embora
ele não cheirasse mal, não tivesse substâncias desconhecidas sob as unhas e
seus cabelos não fossem ensebados, Julie sabia que jamais aceitaria a ideia de
que um dia Adam poderia aparecer à sua porta com essa aparência. Houve um acidente
nas instalações, querida. Desculpe-me por voltar para casa assim. Sentia
arrepios só de pensar nisso. Tampouco conseguia se imaginar separando as roupas
de trabalho dele para lavar. O relacionamento estava fadado ao fracasso.
Foi justamente quando Julie começara a se
perguntar se ainda existiam pessoas normais como Jim ou o que nela parecia
atrair homens esquisitos – como um letreiro em néon anunciando “Disponível,
Normalidade Não Exigida” – que Richard entrou em cena.
E por milagre, mesmo depois do primeiro
encontro, no sábado, ele ainda parecia... normal. Consultor da J. D. Blanchard
Engineering – a empresa que estava consertando a ponte sobre o Intracoastal
Waterway –, nos arredores de Cleveland, eles se conheceram quando Richard foi
ao salão para cortar os cabelos.
Acabaram combinando de sair. Durante o
encontro, ele abriu as portas para ela, sorriu nos momentos certos, pediu o
jantar de Julie ao garçom e não tentou beijá-la ao se despedir. O melhor de
tudo: Richard era bonito de um modo artístico, com maçãs do rosto proeminentes,
olhos cor de esmeralda, cabelos pretos e bigode. Depois que ele a deixou em
casa, Julie teve vontade de gritar: Aleluia! Encontrei a luz!
Singer não parecera tão impressionado.
Depois que ela se despediu de Richard, o cão fez uma de suas cenas de “quem
manda aqui sou eu”, rosnando até Julie abrir a porta.
– Ah, pare com isso – disse ela. – Não
seja tão duro com ele.
Singer fez o que ela mandou, mas se
retirou para o quarto, onde ficou amuado pelo resto da noite.
Se meu cão fosse um pouco mais bizarro,
pensou Julie, poderíamos participar de um show de variedades, bem ao lado do
homem que engole espadas. Mas minha vida também não tem sido exatamente normal.
Julie abriu a torneira e entrou no chuveiro,
tentando parar a torrente de lembranças. De que adiantava pensar nos momentos
difíceis? Muitas vezes ela refletia que sua mãe tivera duas atrações fatais:
bebida e homens nocivos.
Qualquer uma delas já teria sido ruim, mas
a combinação das duas fora insuportável para Julie. A mãe trocava de namorado
toda hora e alguns deles fizeram Julie se sentir muito desconfortável ao chegar
à adolescência. De fato, o último tinha tentado assediá-la e, quando Julie
contou para a mãe, ela, com uma raiva chorosa provocada pelo álcool, a acusara
de se insinuar para ele.
Não demorou muito para Julie se ver sem
casa.
Viver na rua foi apavorante, mesmo que não
tenha sido por mais de seis meses, até Jim aparecer. A maioria das pessoas que
Julie conhecia usava drogas, mendigava, roubava ou fazia coisa pior. Temendo se
tornar como os fugitivos que via todas as noites nos abrigos e nos becos mal
iluminados, Julie procurou desesperadamente qualquer serviço fora das ruas que
lhe oferecesse um prato de comida. Aceitou todos os trabalhos humilhantes que
lhe propuseram e manteve a cabeça baixa. Quando conheceu Jim num restaurante em
Daytona, estava tomando uma xícara de café com os últimos trocados que lhe
restavam.
Jim pagou seu café da manhã e, ao sair,
disse que faria a mesma coisa no dia seguinte, se ela voltasse. Faminta, Julie
voltou, e quando lhe perguntou sobre seus motivos para fazer isso – presumira
saber quais eram e havia se preparado para constrangê-lo em público falando
sobre abuso de menores e tempo de prisão –, Jim negou ter quaisquer segundas
intenções. No fim daquela semana, quando ele se preparava para ir para casa,
fez uma proposta a Julie: se ela se mudasse para Swansboro, Carolina do Norte,
ele a ajudaria a encontrar um emprego em tempo integral e um lugar para ficar. Julie
se lembrava de ter olhado para ele como se houvesse insetos saindo de suas
orelhas.
Um mês depois, porém, como não tinha muita
coisa programada em sua agenda, Julie foi para Swansboro. Ao saltar do ônibus,
pensou: O que estou fazendo aqui? Mas, apesar do ceticismo inicial, procurou
Jim, que a levou ao salão de cabeleireiro para conhecer a tia Mabel. E, para
sua surpresa, ela logo estava varrendo o chão em troca de um salário e morando
no quarto em cima do salão.
No início, Julie ficou aliviada com a
aparente falta de interesse de Jim. Depois, curiosa. A seguir, aborrecida. Por
fim, após encontrar várias vezes com ele e fazer o que lhe pareceram insinuações
descaradas, Julie se deu por vencida e perguntou a Mabel se Jim não a achava
atraente. Só então ele pareceu entender a mensagem. Eles tiveram um encontro e,
um mês mais tarde, os hormônios estavam à flor da pele. O verdadeiro amor veio
pouco depois e Jim a pediu em casamento. A cerimônia foi na igreja onde ele
havia sido batizado e Julie passou os primeiros anos de casada desenhando
rostos sorridentes em todos os pedaços de papel que encontrava. Considerando
seu passado, o que mais ela podia desejar?
Muito, como logo percebeu. Algumas semanas
após o quarto aniversário de casamento, Jim teve uma convulsão ao voltar da
igreja e foi levado às pressas ao hospital. Dois anos depois, o tumor cerebral
o matou e, com 25 anos, Julie se viu obrigada a recomeçar. Acrescentando-se a
isso o aparecimento inesperado de Singer, ela havia chegado a um ponto da vida
em que nada mais a surpreendia.
Hoje em dia, pensava, eram as pequenas
coisas que importavam. Eram os acontecimentos cotidianos que definiam quem ela
era. Mabel, Deus a abençoe, tinha sido um anjo. Ajudara Julie a se tornar
cabeleireira e a levar uma vida decente, sem extravagâncias. Henry e Emma, dois
grandes amigos de seu marido, não só a ajudaram a se adaptar quando se mudara
para a cidade, como continuavam próximos, mesmo depois da morte de Jim. E havia
Mike, o irmão mais novo de Henry e melhor amigo de Jim na juventude.
No chuveiro, Julie sorriu. Mike. Um dia
ele faria uma mulher muito feliz, mesmo que às vezes parecesse um pouco
perdido.
Alguns minutos depois, Julie se enxugou,
escovou os dentes, penteou os cabelos, passou um pouco de maquiagem e se
vestiu. Como seu carro estava na oficina, teria que ir a pé para o trabalho –
cerca de um quilômetro e meio, seguindo pela mesma rua –, por isso calçou
sapatos confortáveis. Quando estava prestes a sair, chamou Singer e quase não
notou o que haviam deixado para ela. Pelo canto do olho viu um cartão preso na
tampa da caixa de correio. Ela o abriu, curiosa, e leu o cartão na varanda
enquanto Singer saía do bosque e vinha correndo em sua direção.
Querida
Julie,
Eu
me diverti muito no sábado. Não consigo parar de pensar em você.
Richard
Então esse era o motivo de Singer ter
enlouquecido na noite passada.
– Está vendo? – disse ela estendendo o
cartão para Singer. – Eu lhe disse que ele era um cara legal.
Singer lhe deu as costas.
– Não faça isso comigo. Você pode admitir
que errou, sabe? Acho que só está com ciúme.
Singer esfregou o focinho nela.
– É isso? Você está com ciúme?
Julie não precisava se abaixar para
acariciar as costas dele. Singer era mais alto do que ela quando era
adolescente.
– Nada de ciúme, está bem? Fique feliz por
mim.
Singer girou em volta dela e ergueu os
olhos para Julie.
– Agora vamos. Temos que ir à pé porque
Mike ainda está consertando o jipe.
Ao ouvir o nome de Mike, Singer abanou o
rabo."
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