O exercício da liberdade e as influências causadas pela violência.

Cultura 

Apesar de que, por tanta repetição e até por sensacionalismo de quem se apodera de situações violentas para se beneficiar com audiência, gerando banalização do assunto, problemas de segurança pública afetam o cotidiano de todos os indivíduos da sociedade, pelo fato de que o medo se torna generalizado e mudanças no estilo de vida se fazem necessárias.
Quando este tema é tratado, se costuma colocar um toque de saudosismo, onde pais e avós afirmam aos seus filhos que já se foi o tempo em que se podia brincar livremente nas ruas e praças, deixar a porta de casa aberta, pois as doces lembranças fazem com que esta fase de suas vidas seja vista como um ideal. O mais importante ‘naquele tempo’ é uma noção mais forte do respeito ao indivíduo e, aos seus limites. Fechaduras, portas reforçadas e muros seriam apenas barreiras visíveis dentro de um limite que beira ao subjetivo, o clichê de que ‘a liberdade de uma pessoa termina onde começa a da outra’, máxima que não propõe nenhuma clareza ao assunto.  Um ser humano, com plena capacidade de distinção entre aquilo que é certo ou errado (sem margem a flexibilizações, por enquanto) não precisaria de uma fechadura para saber que não pode entrar em propriedades alheias sem ser convidado.
Todavia, a crença rígida do certo e errado caem por terra quando pensamos em situações de fome, como a do famoso ladrão de galinhas. A flexibilidade nos conceitos de certo e errado leva à crença de que se pode graduar situações de violência e de criminalidade com uma escala. Outra máxima se faz presente neste momento, a de ‘que uma pessoa não pode roubar uma galinha para comer, mas um político pode ser corrupto e desviar grandes montantes do dinheiro público, sem ir a julgamento’. Neste ponto, vemos duas situações distintas, mas que deveriam ser vistas como problemas de segurança que exigem soluções em ambos os casos.
No caso do indivíduo que passa fome, há um problema social envolvido, onde este não consegue ter as condições mínimas para uma vida digna, a ponto de ter de roubar para saciar a sua fome. Especificamente neste caso, uma solução possível seria a indenização do pequeno dano causado ao ‘proprietário da galinha’, como já ocorre em determinada localidade de nosso país, pois a ‘galinha’ é parte de seu patrimônio e ele trabalhou para mantê-la. E, em seguida, por parte do poder público, a busca da reinserção do ladrão de galinhas na sociedade em condições mínimas de dignidade, aquelas previstas nos direitos do cidadão, na Carta Magna Brasileira.
No caso de um administrador público e/ou quem exerce cargo eletivo, devemos começar a reestimular aquele velho, ainda mais importante nos dias de hoje, senso moral no que se refere ao alheio. Devemos propagar a visão do dinheiro público como algo que um administrador pode manipular, mas que não é seu, é de todos. Se o administrador público não for convicto nesta ideia, deve ser retirado obrigatoriamente de seu cargo, pois também está cometendo uma série de crimes. A falta de dinheiro público pode gerar o não atendimento de um paciente pelo Sistema Único de Saúde, por exemplo. Prova deste exemplo é o registro de boletins de ocorrência por parte de um médico, fato recentemente noticiado pela mídia, a fim de informar que a omissão de socorro se deve à falta de recursos para o atendimento para toda a população que necessita, responsabilizando o poder público.


[Circulando pelo Facebook]

Fazendo uma análise mais ampla, todos os casos de crimes com ou sem violência estão ligados à falta de consciência dos limites e liberdades individuais, com gradativas falhas morais, além de problemas sociais e econômicos que merecem atenção por parte do governo e da sociedade. E, com isso, todos os cidadãos acabam sacrificando sua liberdade em prol de segurança, para que não percam o fruto de seus trabalhos e até a própria vida. Câmeras de segurança vigiam os passos de todos em boa parte dos estabelecimentos públicos e privados, e até na rua. Nossas casas são cada vez mais fechadas por circuitos de segurança, muros, cercas elétricas e até concertinas, verdadeiros presídios, em uma completa inversão de papéis.
O Brasil possui plenas condições políticas de mudança, pois não estamos em um regime ditatorial, mas sim em um regime democrático de direito. Mas, para que seja possível reverter, ao menos em parte, o estado de insegurança em que nossa sociedade vive, é preciso maior mobilização, seja em crescimento da consciência de coletivo/individual, seja na adoção de políticas públicas de contenção e prevenção à violência, seja na maior participação popular na tomada de decisões e na escolha correta de nossos governantes.

 

Veja também: (Cultura) As marcas indeléveis do Bullying

 

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