“Um amigo meu me ensina a diferença entre
‘chatear’ e ‘encher’. Chatear é assim: você telefona para um escritório
qualquer da cidade.
- Alô! Quer me chamar por favor o
Valdemar?
- Aqui não tem nenhum Valdemar.
Daí a alguns minutos, você liga de novo:
- O Valdemar, por obséquio.
- Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum
Valdemar.
- Mas não é o número tal?
- É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar.
Mais cinco minutos, você liga o mesmo
número:
- Por favor, o Valdemar já chegou?
- Vê se te manca, palhaço. Já não te disse
que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui?
- Mas ele mesmo me disse que trabalhava
aí.
- Não chateia.
Daí a dez minutos, liga de novo.
- Escute uma coisa! O Valdemar não deixou
pelo menos um recado?
O outro desta vez (...) diz coisas
impublicáveis.
Até aqui é chatear. Para encher, basta
esperar mais dez minutos, faça nova ligação:
- Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o
Valdemar. Alguém telefonou para mim?” □
CAMPOS, Paulo Mendes.
(in: Para gostar de ler. – 3 ed. – São Paulo:
Ática, 1979. Volume 3 - Crônicas, pág. 35)
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