Bullying é o gerúndio do verbo to bully,
que literalmente tem acepção de intimidar, ameaçar. São atos de violência
física ou psicológica, repetitivos e intencionais, entre pares, praticados por
um ou vários indivíduos, contra outro, em uma relação de desequilíbrio de
poder.
A vítima sofre pela rejeição, pelo não
pertencimento ao grupo. É um sentimento que dói intensamente, mais do que se
infere das palavras do filósofo norte-americano William James (1842-1910): “O
princípio mais profundamente enraizado na natureza humana é a ânsia de ser
apreciado.”
Onde mais se pratica o bullying é na
escola e esta é um laboratório para a vida adulta. Evidentemente o mundo do
trabalho é competitivo e em determinados momentos a tolerância às hostilidades
é necessária. Esse aprendizado deve ser gradual – não pontualmente intenso, uma
característica do bullying – para que a consciência e a razão introjetem os
ensinamentos de que o caminho a ser percorrido na vida não é plano, florido e
pavimentado. Quem não foi alvo de apelidos, gozações, ofensas em sua trajetória
escolar? Em boa medida, a escola deve punir. No entanto, a palavra bullying
está sendo empregada indiscriminadamente. O ambiente escolar é um cadinho dos
humanos e é ilusão aspirar a que estudantes se comportem como noviças numa
clausura.
Num crescendo, o educando vai assimilando
as oportunas lições das alegrias e agruras na convivência com outras crianças e
adolescentes e destarte torna-se mais robusto para o enfrentamento dos desafios
e frustrações. As raízes de um carvalho só se fortalecem pala ação das inclementes
rajadas de vento. E cada vitória tem o sabor de uma perdoável vingança, como as
palavras de Kate Winslet – vítima de bullying por ser uma adolescente
rechonchudinha – ao receber o Oscar de melhor atriz, por sua atuação em
Titanic: “Lá do palco, quando olhei a plateia, não vi nenhum dos meus
agressores.”
É um exemplo de superação, embora as
ofensas que tenha sofrido certamente não representem um ponto fora da curva.
Neste espectro, há um outro extremo, fruto de bullies (agressores) sistemáticos
e que agem sadicamente sobre vítimas portadoras de desequilíbrios ou com
elevada sensibilidade. É um solo minado, com consequências nefastas, como a tragédia
numa escola de Realengo (RJ), em 7/4/11, quando 12 alunos foram assassinados
por um esquizofrênico e sociopata. Wellington de Oliveira, franzino e
introspectivo, foi alvo constante na escola de seus colegas algozes: piadas e
apelidos depreciativos; sua cabeça foi enfiada num vaso sanitário; jogaram-no
de cabeça para baixo dentro de uma lata de lixo e tamparam.
Um legado trágico sucede suas palavras
escritas na véspera: “Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um
grupo e todos os que estavam por perto se divertiam com as humilhações que eu
sofria, sem se importar com os meus sentimentos. Embora meus dedos sejam
responsáveis por puxar o gatilho, essas pessoas são responsáveis por todas
estas mortes, inclusive a minha.”
Essa violência repetida e praticada entre
iguais deixaram marcas leves em Kate e profundas em Wellington. São marcas que
geraram sofrimento, provocadas pela insensibilidade moral do bully (agressor).
Nós, educadores, devemos atacar as causas para que a consciência não nos acuse
quando vierem as consequências. A intensidade do bullying indica o quanto
moralmente a escola está comprometida. É responsabilidade dos gestores e
professores duas frentes de combate: prevenção e ação. É preventiva a
implementação de uma cultura de respeito, tolerância e aceitação de que somos
diversos, mas não adversos. Ação vigilante, proativa e punitiva sobre os
agressores. Em resumo: ação como remédio e prevenção pelo comportamento ético.
VENTURI, Jacir J.
(diretor de escola, professor e escritor)
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