(Fragmentos)
Invejo
o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com
que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
Imito-o.
E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O
alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por
isso, corre, por servir-me.
Sobre o papel
A
pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre;
desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe
ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce,
aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No
verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero
que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do
ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E
que o lavor do verso, acaso,
Por tão sutil,
Possa
o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
E
horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A
trabalhar, longe de tudo,
O pensamento.
Porque
o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que
o ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Assim
procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por
te servir, Deusa serena,
Serena forma!
Celebrarei
o teu ofício
No altar: porém,
Se
inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
Caia
eu também, sem esperança,
Porém tranquilo,
Inda,
ao cair, vibrando a lança,
Em prol do estilo!
(BILAC,
Olavo. Olavo Bilac – Obra Reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996)
1- Profissão
de fé: declaração pública de uma crença; no caso, de um conceito sobre poesia.
2- Ourives:
aquele que trabalha com ouro, burilando a forma; por extensão, joalheiro.
3- Carrara:
cidade italiana famosa pela qualidade de seu mármore.
4- Ônix:
pedra preciosa. O poeta diz preferir as pedras raras ao mármore.
5- Cinzel:
instrumento de aço, cortante, usado por escultores e joalheiros.
6- Verso
de ouro: o último verso de cada estrofe; para os parnasianos, a expressão mais
comum era “chave de ouro”: o poeta se esmerava em obter uma imagem de efeito.
7- Rubim:
variante, por nasalação, de rubi. Observe a rima enfim/rubim, utilizando esta
forma menos usual.
8- Oficina:
aqui, o local de trabalho do poeta/ourives.
9- Becerril:
artesão romano.
10-Deusa
Forma: a divinização da forma como objetivo da postura do poeta parnasiano, da
sua fé. Nas duas últimas estrofes, o trabalho de um poeta é visto como um
sacrifício religioso.
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