A rua que eu imagino desde menino, para o
meu destino pequenino
É uma rua de porta reta, quieta, discreta,
direita, estreita, bem-feita, perfeita,
Com pregões matinais, de jornais,
aventais, nos portais, animais e varais nos quintais.
E acácias paralelas, todas elas belas,
singelas, amarelas,
coradas, descabeladas, debruçadas como
namoradas para as calçadas.
E um passo, de um espaço, num mormaço de aço baço e laço, e algum piano, provinciano, cotidiano, desumano, mas brando e brando, soltando de vez em quando,]
Na luz rala de opala de uma sala uma
escala clara que embala;
e, no ar de uma tarde que arde, o alarde
das crianças do arrabalde;
e de noite, no ócio capadócio junto aos
espiões, os bordões dos violões
e a serenata ao luar de prata (mulata ingrata
que me mata...);
e depois o silêncio, o denso, o intenso, o
imenso silêncio...
A rua que eu imagino, desde menino, para o
meu destino pequenino
é uma rua qualquer, onde desfolha um
malmequer
uma mulher que bem me quer;
é uma rua, como todas as ruas, com suas
calçadas nuas.
Correndo paralelamente, como a sorte
diferente de toda a gente,
para a frente
para o infinito, mas uma rua que tem
escrito um nome bonito, bendito que sempre repito
e rima com mocidade, liberdade,
tranquilidade: RUA DA FELICIDADE...
ALMEIDA, Guilherme.
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