Morte e vida Severina (XV)


[cliptomania] 

COMEÇAM A CHEGAR PESSOAS TRAZENDO PRESENTES PARA O RECÉM-NASCIDO
 

— Minha pobreza tal é
que não trago presente grande:
trago para a mãe caranguejos
pescados por esses mangues
mamando leite de lama
conservará nosso sangue. 

— Minha pobreza tal é
que coisa alguma posso ofertar:
somente o leite que tenho
para meu filho amamentar
aqui todos são irmãos,
de leite, de lama, de ar. 

— Minha pobreza tal é
que não tenho presente melhor:
trago este papel de jornal
para lhe servir de cobertor
cobrindo-se assim de letras
vai um dia ser doutor. 

— Minha pobreza tal é
que não tenho presente caro:
como não posso trazer
um olho d'água de Lagoa do Cerro,
trago aqui água de Olinda,
água da bica do Rosário. 

— Minha pobreza tal é
que grande coisa não trago:
trago este canário da terra
que canta sorrindo e de estalo. 

— Minha pobreza tal é
que minha oferta não é rica:
trago daquela bolacha d'água
que só em Paudalho se fabrica. 

— Minha pobreza tal é
que melhor presente não tem:
dou este boneco de barro
de Severino de Tracunhaém. 

— Minha pobreza tal é
que pouco tenho o que dar:
dou da pitu que o pintor Monteiro
fabricava em Gravatá. 

— Trago abacaxi de Goiana
e de todo o Estado rolete de cana. 

— Eis ostras chegadas agora,
apanhadas no cais da Aurora. 

— Eis tamarindos da Jaqueira
e jaca da Tamarineira. 

— Mangabas do Cajueiro
e cajus da Mangabeira. 

— Peixe pescado no Passarinho,
carne de boi dos Peixinhos. 

— Siris apanhados no lamaçal
que já no avesso da rua Imperial. 

— Mangas compradas nos quintais ricos
do Espinheiro e dos Aflitos. 

— Goiamuns dados pela gente pobre
da Avenida Sul e da Avenida Norte. 

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