Os Mirins,
grupo do grandioso Albino Manique, lançou em julho de 2016 seu mais novo
trabalho, com canções de encher os olhos, muitas delas sucessos inéditos. Clareando
o dia foi a música escolhida para nomear este álbum, mas o alvorecer do dia se faz
presente ao longo de todas as músicas, em diferentes ângulos.
Você
pode escutar as músicas e acompanhar suas letras logo abaixo e, gostando do CD,
adquiri-lo diretamente do site da gravadora Vertical.
[Vídeo: Usuário do Youtube]
VANEIRINHA DA FELICIDADE
Lembrando
teu olhar tão lindo
Com
a luz do bem-querer
Vejo
o céu pra mim sorrindo
Iluminando
o meu viver
Meu
mundo é mais bonito
Tudo
agora têm mais cor
Meu
destino foi escrito
Com
a paz do teu amor.
Contigo
tenho certeza
Que
eu não vivo por metade
Se
ontem era só tristeza
Hoje
é só felicidade!
O ADEUS
Quando
um aceno de mão
Indica
uma partida
A
alma sofre por dentro
Como
o abrir de uma ferida
Os
olhos marejam por dentro
A
dor tangida do adeus
E
pede ao céu baixinho
Toda
a proteção de Deus
Quando
o aceno do adeus
É
para um filho que parte
O
coração de quem fica
É o
que mais se reparte
A
dura ausência, pesada,
Que
vai pela estrada afora
É o
retrato da dor
De quem
fica agora e chora
Não
existe uma partida
Sem
haver voz embargada
Pois
se sabe que alvoradas
Não
virão do mesmo jeito
E o
sentimento arrebenta
Perguntando
pra razão
Por
que é que a solidão
Veio
morar em meu peito?
Quando
a distância aumentada
É
da sua terra amada
Brota
um vazio interior
Dá
aquelas duras apertadas
E
se o gesto do adeus
É de
um amor que se foi
O
aceno finge ser um
Mas
sempre será por dois
Não
tem como ir embora
Sem
imaginar a volta
O destino
se revolta
Soluçando
sua metade
Quem
sai marcando caminhos
Sem
deixar de olhar pra trás
Sabe
que sua própria paz
Virá
pra matar saudade!
ACONTECE A UM DOMADOR
Acontece
a um domador
Que
anda a buscar emprego
O
mundo mau lá oferece
Uns
potros baios e negros
Mesmo
depois de maneados
Corcoveiam
sem sossego
Pega
na orelha que eu monto
Ao
mundo solicitou
A ânsia
desse ginete
Nas
chilenas se enredou
Nunca
encilhar potro alheio
A
vida então lhe ensinou
Ginete
longe dos bastos
Não
vive os seus momentos
Não
olha o pelo do xucro
Vindo
de encontro aos sentimentos
Gineteando
nos agostos
Congela
a face ao vento
Aos
olhos de povo e manso
Choraram
ao ir embora
Nunca
mais domo potros alheios
Que
andam estrada afora
Se
o mundo oferecer outro
Dependuro
minhas esporas
Vou
dar um tempo-ao-tempo
Vou
recompor meus arreios
Talvez
emendar o tento
Que
penduro meus anseios
Pra
nunca mais encilhar
Potros
malinos e alheios
TITÃS DA PORFIA
Na
legenda da minha mão
Presenciei
de certa feita
Duas
horas de improviso
Na
goela do Gildo Freitas
Igual
água de vertente
Brotavam
da sua ideia
Versos
com rima e poesia
Saudando
a sua plateia
Me
convenci que a porfia
É
uma graça divina
Me
encanto ao ouvir esses homens
Brincando
através da rima
São
relampejos de ideias
Escaramuças
campeiras
Poetas
que nascem feitos
Sem
limites de fronteiras
Gargantas
do improviso
Cometas
do universo
Velocidade
dos raios
Na
construção de um verso
Poesia
e rimas sonoras
Numa
fração de segundos
Trovadores,
pajadores
Iluminados
do mundo
A
nossa pampa se irmana
Com
o Uruguai e a Argentina
Nessas
pajadas ferrunhas
Sabe
o ritual da rima
Talentos
descomunais
Da
xucra filosofia
Filhos
humildes da pátria
Grandes
mestres da porfia
Trovadores, pajadores
Esses
titãs do improviso
Poetas
por natureza
Confirmam
quando preciso
Só
houve um Gildo de Freitas
Canto
sem medo de erro
Só
um Jayme Caetano Braun
E
um único Martín Fierro
RETRATANDO A VANEIRA
Quando
a gaita chora na vaneira
E a
polvadeira se levanta
O
Rio Grande baila no sonido
Pelo
chão batido das bailantas
Ecoando
o ronco pela sala
Para
transformá-la em canção
Nesses
entreveiros da querência
Rebrotando
a essência desse chão
Vamos
se atracando nessa marca
Que
o tranco retrata a tradição
Quando
a gauchada firma o passo
Nesses
fandangaços de galpão
Quando
a gauchada firma o passo
O
Rio Grande baila a tradição
Serve
pra bailar de pé trocado
Ou
improvisar num sapateio
Fica
mais graciosa, mais hermosa
Na
sala a moça, um sarandeio
Mas
uma vaneira é mais vaneira
Quando
a sala cheira a picumã
Integrando
os tauras galponeiros
Aos
novos campeiros do amanhã
RANCHEIRA VELHA
Já tô
cansado de dançar vaneira
Gaiteiro
amigo te faço um pedido
Que
mude o tranco pra velha rancheira
Daquelas
buenas do sistema antigo
Não
há compasso pra ajeitar namoro
Pouco
me importa, quero é diversão
E
vou bufando igual brigão de touro
Buscando
espaço por todo o salão
Vamo
que vamo no embalo do trem
Pra
mim não tem melhor academia
Do
que dançar de saltar carteira
Uma
rancheira de clarear o dia
Pra
pegar fogo eu danço valseado
E
mal encosto a sola no chão
Fosse
pra lida, pra abrir um roçado
Juro
não tinha essa disposição
Depois
eu volto pro sapateadito
Bota
lageana com seu barbicacho
Nossa
senhora, mas como é bonito
Fazer
barulho com os dois pés de baixo
PRA TE ENCONTRAR
Novamente
estou cantando pra você
Pra
te dizer o quanto tenho sofrido
Já
fiz de tudo pra chamar sua atenção
Infelizmente,
nunca fui correspondido
Uma
canção foi-me uma tentativa
Alternativa
que eu achei pra te encontrar
Sinceramente,
minha vida não tem graça
O tempo
passa e eu não canso de te amar
Nessa
canção, eu quero dizer sem medo
Que
esse segredo que há muito tempo escondi
Faltou
coragem pra falar pessoalmente
O
que eu sentia as canções falaram pra ti
Muitas
vezes fiquei no anonimato
Esse
é um relato de um peito que já sofreu
Eu
não preciso sequer citar o teu nome
Me
telefone, diga que não me esqueceu
A
tua carta, até agora não chegou
Pra
me dizer se tu ouviu minha canção
Este
silêncio é o que tem me judiado
Descompassando
o meu pobre coração
A
cada dia que passa, minha querida
Dou
a minha vida um pouco mais de esperança
Fico
apenas alimentando a ilusão
Um
coração, para amar, não tem distância
ROSA TRIGUEIRA
Eu
chorei um prato amargo no jardim dos desencantos
Por
perder Rosa Trigueira, a mais bela flor dos campos
Foram
tristes primaveras, rebeldia de quem ama
Embaçando
meu olhar toda a paixão que reclama
São
queixumes e saudades
Com
agrura e solidão
Por
perder Rosa Trigueira
Minha
flor do coração
Era
ela a mais bela das trigueiras do rincão
Seu
desprezo fez coivara dos meus sonhos de peão
Hoje
ouço em auroras, beija-flores e pardais
Em
seu canto a me dizer: Trigueira não volta mais
Tantas
noites mal dormidas e tantos sonhos perdidos
Ao
perder Rosa Trigueira, meu mundo foi destruído
Hoje
ouço em auroras, beija-flores e pardais
Em
seu canto a me dizer: Trigueira não volta mais
CLAREANDO O DIA
Ouço
a gaita me chamar
Pra
erguer poeira do chão
Eu
ainda tô sem par
Pra
rodar pelo salão
Esperei,
mas não chegou
Quem
eu tanto quero bem... sei que não vem
Eu
tô loco pra dançar
Foi
pra isso só que eu vim
Eu
não vou mais esperar
Porque
o baile está no fim
Daqui
a pouco o dia vem
Ela
não apareceu... já me perdeu
E
lá se vem clareando o dia
A
gaita não pode calar
Quem
vem para sorrir
Vai
pra lá e vem pra cá
Eu
não vou desistir
Quero
dançar
O
Sol aponta atrás do cerro
Entra
nas frestas do galpão
Deixa
o dia clarear
Pra
apagar o lampião
Eu
daqui sem dançar
Não
saio não
GAITEIROS GAÚCHOS
Da minha
cordeona, que aos poucos se fecha
Ganhei
essa mecha de branco nas crinas
E
antes que a gaita se vá para o estojo
Eu
subo o apojo de um som que termina
Comparo
o meu corpo com a gaita cansada
Por
léguas de estrada, noitadas sem fim
Pois
trago nas veias gaitaços malevas
E a
gaita carrega pedaços de mim
Sou
resto de baile com sol da janela
Sou
tecla amarela, encardida do tempo
Gaiteiro
gaúcho, mourão de invernada
É casca
lanhada, mas firme por dentro
Na
beira do fogo forjei amizade
Sem
ter vaidades, pachola e contente
Pra
mim dá no mesmo tocar sem ter lucro
Ou num
baile xucro tapado de gente
Mas
coisas tão minhas ganhei nos rodeios
Farranchos,
floreios, cirandas da vida
Levando
alegria tirei meu sustento
Bendito
instrumento, parceiro de lida
Levei
no meu canto, de pura linhagem
Ferrunhas
mensagens de guerra e de amor
Abrindo
esse fole, mesmo na mesmice
É
como se abrisse no campo uma flor
Eu
sei que a saudade jamais envelhece
Por
isso, nas preces, eu peço uma luz
Pra
que eu não esqueça dos tempos tão lindos
Cordeona
se abrindo e os braços em cruz
VIVÊNCIA TAPERA
Quando
desato a lembrança
Meu
pensamento desanda
Abancado
na varanda
Sorvendo
a minha saudade
Me
pego fazendo planos
Até
que o dia me alcança
A
campear uma esperança
Nessa
vida por metade
A
quietude logo finda
Pois
já chega o sol rondando
E a
noite se espreguiçando
Que
ressona junto às brasas
O
canto madrugador
Do
galo chamando o dia
Me
lembra que alegria
Há
tempo bateu as asas
Vem
cevar meu chimarrão
E
aquecer minha vida
Que
sem graça e diminuída,
Desde
que fiquei sozinho
Vem
trazer o teu sorriso
Pra
iluminar o meu pago
E
adoçar esse amargo
Da
falta do teu carinho
O
peito vazio da ausência
Abriga
um frio de geada
Os
olhos presos na estrada
No
vício de uma espera
A
solidão que me abraça
Testemunhando
esse fato
É moldura
pra um retrato
Dessa
vivência tapera
A
saudade que machuca
Já
não é mais estranha
Fielmente
me acompanha
Não
me deixa e nem me esquece
Pouco
me importa o clarão
Que
o novo dia ameaça
Pois
a noite sempre passa
E a
saudade permanece
SEM BRONCA
A noite
se finda, me acordo escutando
O vento
guasqueando nas tábuas do rancho
O dia
me encontra de zoio pequeno
E
num mate bueno a preguiça eu desmancho
Com
sol ou geada, com chuva ou garoa
Qualquer
tempo à toa que vem lá de cima
Quando
o galo canta, eu pulo da cama
Se
a lida me chama, não importa o clima
A
vida não para porque o tempo muda
E o
céu ajuda quem firme se aguenta
Quem
não é patrão trabalha sem bronca
Pois
lá a pança ronca com sol ou tormenta
Que
venha o destino que a vida me deu
Porque
não nasceu quem viva de brisa
O
peão só desenha um tempo melhor
Deixando
suor no chão onde pisa
No
mundo campeiro, um dia após outro,
A
sina do potro é ser cabestreado
O peão também nasce com a mesma sina
Pra
nessa rotina viver embretado
Quem
sabe da lida conhece o caminho
Não
baixa o focinho se o tempo tá feio
Pros
tombos da vida não frouxa um tento
De
choro e lamento refuga o arreio
FRACO PRA BEBIDA
Neste
surungo já cheguei meio borracho
Carregando
o barbicacho pendurado nas oreias
O
lenço atado num nó cego a meia espalda
Um
trotão cheio de baba e a carranca bem vermelha
Bem
que eu podia ficar no rancho solito
Mastigando
um fiambrezito de salame com bolacha
Mas,
invés disso, tô tropicando na baba
Fui
beber uma canha braba que me travou as ganacha
Coisa
bem feia é um gaúcho fraquejando
E
acaba se emborrachando por causa de uma bandida
Eu
sei que china não se esquece assim bebendo
E
além de tudo eu tô vendo que sou fraco pra bebida
Mas
que maleza, pareço um bicho pesteado
Tô
vendo o baile emborcado, tudo de pata pra cima
Vou
me batendo, sol lá fora testaveando
E
já estou desaforando até mesmo quem me estima
Tem
um milico metido a facão sem cabo
Fazendo
cara de brabo
Louco
pra me riscar o lombo
Mas
se acaso ele inventar de fazer graça
Daqui
a pouco corre e passa
E
ele é quem vai levar o tombo
□
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