Em 10 de dezembro de 1870, Adolf Loos
nasceu em Brunn, na Tchecoslováquia, sendo filho de Adolf (de quem herdou o
nome) e Marie Loos. Seu pai desenvolveu a profissão de escultor e pedreiro. Estudou
na Escola Pública Elementar de Brunn e, no ano de 1885, se mudou para Reichenberg
para estudar na Escola de Artes e Ofícios. Entre os anos de 1900 e 1893, Loos
cursou Arquitetura na Universidade Técnica de Dresden, onde interessou-se pelas
obras de Schinkel, arquiteto e pintor alemão classicista, e de Vitrúvio um
arquiteto e engenheiro romano, que viveu no século I a.C. e deixou como legado
a obra De Architectura; que se constitui no único tratado europeu do
período greco-romano que chegou aos dias atuais, sendo inspiração aos elementos
arquitetônicos e estéticos das construções.
[Adolf Loos, um dos
grandes nomes do Modernismo – Foto: RIBA]
Este interesse cresceu durante sua estada
nos Estados Unidos, quando conheceu o trabalho de Louis H. Sullivan (1856-1924),
que foi um dos arquitetos mais influentes da Escola de arquitetura de Chicago ao
fim do século XIX. Conhecido como pai do arranha-céu ou o profeta da
arquitetura moderna, foi quem concebeu a ideia de que a forma segue a
função, que seria adotada por Loos em seu estilo de projetar. A arquitetura
sullivaniana é uma mistura de geometria simples e elementos elaborados de
ornamentação em pedra, madeira e terracota.
Em 1896 retornou a Viena, em plena
agitação cultural da capital austríaca, onde começou a trabalhar na empresa de
construção de Carl Mayreder. Depois, entre os anos de 1897 a 1898, escreveu uma
série de artigos em que criticou as concepções artísticas e arquitetônicas da
Sezession, e de seus líderes, o Pintor Gustav Klimt e os arquitetos Joseph
Olbrich e Josef Hoffmann, com base nos princípios adquiridos na viagem aos
Estados Unidos e nos ensinamentos funcionais de Otto Wagner, difundidos na
Academia de Viena. Nestes artigos expressou a crença de que as obras sem
ornamentação são símbolos de um nível elevado de pensamento e de cultura e de
que as formas puras são as únicas capazes de expressar beleza. Em 1903 foram
publicados os primeiros artigos de Das Andere, que foi uma revista
especializada em temas arquitetônicos. Sintetizando estes artigos e toda a bagagem
de busca por uma arquitetura mais limpa e menos ornamentada, no ano de 1908,
Loos publica seu texto mais polêmico, ‘Ornamento e crime’, sendo o ponto
culminante de uma oposição teórica ao movimento Art Nouveau. Para ele, a
falta de ornamento na arquitetura era um sinal de força espiritual e
considerava o ornamento penal por causa da economia do trabalho e do
desperdício de materiais da civilização industrial moderna. Ele argumentou que,
como ornamento já não era mais uma importante manifestação cultural, o
trabalhador dedicado à sua produção poderia não receber um pagamento justo pelo
seu trabalho, e também que a arquitetura deve servir à necessidade prática, e
não apenas como arte. Segundo o arquiteto, só uma pequena parte da
arquitetura pertence à arte: o túmulo e o monumento. Tudo mais deve ser
excluído dos domínios da arte. Loos foi recebido com entusiasmo pela vanguarda
francesa. Ornamento e Crime foi traduzido em 1920 para a 'Esprit
Nouveau', uma publicação editada por Dermee Paul, Ozenfant e Le Corbusier, este
último sendo um dos principais influenciados pelas ideias de rejeição à ornamentação.
Outro arquiteto que sofreu grande influência de Loos foi Walter Grophius.
Neste post serão comentadas algumas das
principais obras de Loos, havendo muitas outras e muitos outros projetos. Vale
a pena conhecer.
[American Bar, Viena
Foto: © Keith Collie/RIBA]
O American Bar é um dos símbolos do
fascínio de Adolf Loos com a cultura estadunidense. Assim como muitos europeus,
ao fim do século 19, passou uma temporada de 3 anos nos EUA, residindo em
cidades como Chicago (de onde obteria influências para o Loos Haus, seu
principal edifício) e Filadélfia. Foi o primeiro típico bar estadunidense em
Viena, famoso por seus coquetéis. O bar fechou as portas algumas vezes e, nos
anos 90, Marianne Kohn assumiu a gestão e deu sua cara ao local, que já atraiu
Quentin Tarantino, Mick Jagger, artistas, políticos e muitas estrelas do
cinema. O local segue como bar, não sendo destinado à visitação arquitetônica,
como outras obras do arquiteto.
[Interior da American
Bar, Viena. Foto: © ORCH Chemollo / RIBA]
Foi concebido em 1908, na fase inicial do
trabalho de Loos. Internamente, detalhe para o piso em tabuleiro de xadrez
verde e branco, enquanto as linhas do balcão, mesas e paredes formam figuras
geométricas perfeitas. O espaço disponível é pequeno e bem distribuído, (4,45m
de frente e 6,15 de comprimento), foram utilizados espelhos na porção superior
para trazer a impressão de teto mais amplo e maior luminosidade. Colunas e
vigas possuem a simplicidade de desenho vista também na Loos Haus de
Michaelerplatz, com formas cúbicas. Também há preferência para materiais
naturais como madeira de mogno escuro, mármore, bronze, seda nas lâmpadas
murais e ônix. Estas duas últimas características demonstram a influência que
Loos teve de Louis Sullivan.
A fachada é composta por duas placas
confeccionadas em mosaicos e peças em vidro. A inferior forma a bandeira
estadunidense, sobreposta às letras do nome do bar na língua local escritas por
mosaicos com pequenas partes de vidro coloridas. Visualizando-se não próximo à
fachada do American Bar, nota-se que o letreiro do nome local fica em segundo
plano em relação ao texto em inglês, em destaque tanto pela posição como pelo conjunto de cores utilizado na escrita. A parede é revestida apenas com peças de mármore
vermelho, e as três portas de vidro utilizam moldura de latão.
[Fachada da Loos Haus de
Michaelerplatz, Viena Foto: © Keith Collie/RIBA]
O Edifício Loos Haus em Michaelerplatz é o
trabalho mais famoso de Adolf Loos e também um dos primeiros edifícios
modernistas da Europa. O local já possuiu diferentes utilizações, estando em um
local de destaque em Viena. Não há recuos no terreno em relação ao passeio, e o
edifício possui três fachadas em tamanhos distintos, pela configuração trapezoidal
do terreno, outra característica marcante. As imediações do Loos Haus são de
construções imperiais barrocas e neoclássicas, incluindo o palácio de Hofburg,
adornadas com estátuas e decoração aplicada, havendo enorme diferença com a
configuração simples e moderna projetada por ele para este edifício. Tamanha
diferença fez com que houvesse inúmeras reclamações e investidas da imprensa
aos proprietários da obra, famosos alfaiates locais, pedindo o redesenho da
fachada, as quais foram bravamente resistidas. Houve quem comparasse o edifício
a um celeiro ou o chamasse de sem sobrancelhas. A construção teve início em
1909, após um pequeno concurso, sendo concluída em 1911.
[Fachada em detalhe da Loos
Haus de Michaelerplatz, Viena Foto: © ORCH Chemollo/RIBA]
A fachada é dividida em dois estágios
diferenciados um do outro em seus materiais e detalhes, demarcando a diferença
de utilização entre eles. O estágio
inferior (com três pavimentos) é revestido em Mármore e Cipollino, grades nas
janelas e colunas em suas laterais (por influência de edificações em Chicago
(USA) no projeto, cidade visitada por Loos) em contraste com a cal da fachada do
estágio superior, com suas aberturas retangulares simples com jardineiras. O
andar inferior era usado para uma alfaiataria e apartamentos privados nos andares
superiores (quatro pavimentos).
[Interior da Loos Haus de
Michaelerplatz, Viena Foto: © ORCH Chemollo /RIBA]
A fachada é bastante conhecida, o que não
se aplica aos interiores, que seguem o ‘Raumplan’, - uso de espaços planejados
em diferentes níveis, pés direitos e volumetria - onde se tornou possível a
manipulação de espaços para a sua função, por meio de estrutura de aço de
construção, com um arranjo especial ara atender as atividades do alfaiate,
clientela e equipe. As áreas de varejo no nível do solo foram feitas a 'estilo
Inglês' mais fechado, quartos domésticos no mezanino, para a medição de
camisas. Os clientes teriam experimentado os interiores acolhedores com seus
materiais de luxo: mármore e madeiras, corrimãos de bronze, vidro chanfrado e
fino artesanato foram o detalhamento usado no lugar de ornamento aplicado. Já
na área de trabalho da equipe da alfaiataria, não havia detalhamento com
materiais sofisticados, pelo princípio do projeto seguindo a função do
ambiente. Na década de 1920, a alfaiataria Goldman & Salatsch, instalada no
edifício Loos Haus, faliu. Os interiores foram posteriormente alterados devido
às novas utilizações, mais recentemente, como um banco. Ocorreu a Restauração
do banco na década de 1970, que restabeleceu muito do design de interiores Loos
com base em documentos históricos.
[Fachada da Casa Steiner]
Em 1910 concebe o projeto da Casa Steiner,
a ser construída em Viena, na Áustria. A casa Steiner foi projetada para a
pintora Lilly Steiner e seu marido Hugo. Localiza-se em um subúrbio de Viena,
onde os regulamentos de planejamento eram fortes e impactaram o design final.
Para cumprir o planejamento municipal, em que a fachada não poderia ser maior
do que a altura de uma planta somada a um teto solar único, e atender as
exigências de seus clientes por um programa espacial completo, Loos arqueou um
telhado de metal até o teto do piso térreo, na frente da casa, e, nos fundos,
transformou-o em um telhado liso plano de madeira e cimento, harmonizando-o com
as elevações do jardim, que exibe um contraste violento entre o centro recuado
e as alas salientes, além da linha contínua dos telhados, e das janelas
horizontais de grandes caixilhos únicos sem jardineiras. Outros aspectos externos marcantes são: a
ausência total de decoração nas paredes externas, que foram simplesmente
rebocadas com argamassa de cal, assim como as antigas casas de Viena; a
economia espacial, e o telhado em chapa metálica curva fora de contexto histórico,
bem como a distribuição de cômodos.
Quanto às características internas, a Casa
Steiner se destaca por possuir quatro níveis. O porão, situado abaixo do nível
da rua, possui salas reservadas para uso doméstico, garagem e salas de caldeira.
Na primeira planta há uma grande sala que pode ser acessada pela rua ou jardim,
por meio de duas escadas que levam ao terraço, que está no nível da sala. Neste
piso também há a cozinha. Na segunda planta, estão os quartos e um atelier de
pintura, cuja iluminação diurna ocorre pela grande janela central da fachada
frontal, originalmente concebidos para a pintora. No último nível estão
ambientes de serviços.
É uma casa com exterior simples, de acordo
com a ideia de Loos do aspecto de edifício "público" e, em
contraponto, os quartos refletem os desejos dos moradores, cujos acabamentos e
mobiliário usaram materiais de qualidade, tapetes orientais e outros elementos
inovadores. Conceitualmente, segundo Loss, a frieza da aparência externa teria
que se contrapor ao interior acolhedor, separando a esfera pública do íntimo. A
casa de Hugo e Lilly Steiner tornou-se um exemplo de grande influência da
arquitetura moderna, que desempenhou um papel significativo na criação de
reputação de Loos como um arquiteto moderno para o público fora da comunidade
vienense, e tornou-se uma referência obrigatória para os arquitetos durante os
anos 1920 e 1930.
Antes de ser liberada a licença definitiva
para continuar as obras do Loos Haus, Adolf ficou doente do estômago e precisou
ser internado. Em outubro de 1912 inaugurou a Escola Livre de Arquitetura e,
neste mesmo ano, projetou a Casa Scheu.
[Casa Scheu]
A casa Scheu foi construída em um bairro
rico, com casas no estilo neoclássico (caracterizadas pela alta simetria e
severidade nas formas), e sua construção foi vista como uma fuga ao bom senso
pela sua forma inovadora e criativa, sendo desenhada a fim de contrastar com o
ambiente ao seu redor, como ocorreu com todas as obras de Loos. Possui uma
forma com um modelo de volume escalonado assimétrico. O prédio possui uma casa
principal e um apartamento modular localizado no ponto mais alto da construção.
Devido à forma escalonada, um dos quartos ganha uma espaçosa varanda, sendo um
dos primeiros edifícios em que o telhado plano foi usado como um terraço ao ar
livre. O interior distingue bem espaços públicos e privados, então foram
projetados ambientes que incorporem o modo de convivência, característica comum
nas casas de Loos, como descrito anteriormente na casa Steiner, por exemplo.
[Casa Rufer]
A casa Rufer foi construída em Viena, no
ano de 1922, onde também se observa o Raumplan. O esquema estrutural da forma cúbica elementar
de 10 x 10m compreende as paredes perimetrais e um pilar central (usado também
para canalizações). As demais paredes não tem função estrutural sendo feitas de
divisórias de madeira e/ou gesso.
O projeto é composto por um edifício de
quatro andares, além de uma semicave para equipamentos de serviço e alojamento
do zelador. As salas de música e jantar, e biblioteca estão localizadas no
primeiro andar, dois dormitórios e serviços relacionados são colocados no
segundo andar, e, no terceiro, a área dos funcionários e um terraço. A entrada
principal é feita por um nível um pouco acima do chão, porém o usuário é
obrigado a virar à direita para encontrar o caminho do vestíbulo da sala de
recepção e seguir a circulação para a sala de música, uma sala muito mais
ampla, com um maior pé direito que leva a varanda, de onde é possível acessar e
avistar o jardim. A elevação de salas com o objetivo de uma visão ampla de
jardins é outra característica marcante na obra de Loos. Os quartos estão
diretamente conectados através da escada, iluminada por uma grande janela voltada
para o norte.
Em contraste com as demais obras, há quarto fachadas rebocadas de branco com uma surpreendente distribuição aparentemente aleatória de aberturas de janela. Apenas dois elementos parecem reduzir esta radicalidade: a cornija e uma cópia do fragment de um friso do Pártenon.
Em contraste com as demais obras, há quarto fachadas rebocadas de branco com uma surpreendente distribuição aparentemente aleatória de aberturas de janela. Apenas dois elementos parecem reduzir esta radicalidade: a cornija e uma cópia do fragment de um friso do Pártenon.
[Projeto usado no Concurso
de Design por Adolf Loos para a Tribune Tower, Chicago Foto: © RIBA]
Em 1923 conclui a proposta para o Edifício
Chicago Tribune. Não foi o vencedor, mas teve o seu projeto reconhecido como o
melhor pelos vencedores do concurso. Desenvolveu o projeto da Villa Moissi,
para o ator albanês Alexander Moissi. Em 1924 mudou-se para Paris, onde ficou
até 1928, e, até o ano de 1930 trabalhou desenvolveu a Casa Müller. Localizada
em Praga, República Tcheca, indica um marco inovador da arquitetura modernista.
A concepção espacial (Raumplan) é evidente nas peças multinível de quartos
individuais, na forma cúbica, com telhado plano e terraços, janelas irregulares
e fachada branca. Nesta casa, o pé direito dos cômodos evolui à medida que a
área deste aumenta. Há harmonia entre funcionalismo moderno e estilo clássico
inglês. Materiais como madeira e mármore novamente foram utilizados, combinando
com o projeto arquitetônico inovador. Em paralelo ao desenvolvimento da Casa
Muller ele desenvolveu a Casa Khuner, construída nos dois anos seguintes. No
ano de 1959, a Casa Khuner foi vendida, passando a servir como hotel e
restaurante e, como ocorreu com o Loos Haus, perdeu parte de suas
características originais.
[Villa Müller, Praga,
1993. Foto: © Keith Collie / RIBA]
Em 1931 publicou seu ultimo livro
intitulado “Trotzdem”, onde foram reunidos vários artigos de jornal. Em 24 de
agosto de 1933 Loos faleceu em Viena. Sua tumba foi construída de acordo com um
projeto seu: representando a liberdade de formas, sendo um simples
paralelepípedo com seu nome, não muito pequeno para não parecer um tinteiro.
Dentro
de toda a obra de Loos, temos como características comuns a simplicidade de
formas, com o Raumplan, propiciando maior destaque ou aconchego para cômodos de
edificações, e os adaptando às necessidades de quem utiliza, por meio de
níveis, alturas e volumetria diferenciadas. A visibilidade de jardins sempre se
beneficiou com esta caracterização, devido ao ganho de altura. A configuração
dos terrenos utilizados por Loos também facilitou o uso de desníveis. A
distribuição de cômodos também não seguiu os padrões tradicionais, variando de
casa para casa. Onde se buscava um detalhamento maior, isto se fez pelo uso de
materiais nobre e artesanato, ao invés de ornamento aplicado. Devido ao caráter
inovador da obra de Loos, sua obra sempre se destacou em relação às
vizinhanças.
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