Os limites são necessários e cabe aos pais estabelecer quais faixas
devem ser mais estreitas, quais mais largas, de acordo com suas convicções e
modelos, respeitando as características individuais da personalidade do filho e
as suas inteligências múltiplas (Gardner).
O livro Grito de Guerra da Mãe Tigre relata a saga da autora Amy Chua ao
educar as duas filhas, hoje com 15 e 18 anos. Amy é descendente de chineses e
professora na prestigiada Universidade de Yale, EUA. Foi contumaz em seu
objetivo: criar filhas bem-sucedidas na escola, para que o sejam na carreira
profissional. Suas exigências eram contundentes: qualquer nota inferior a dez é
porque não se esforçou o suficiente; nada de tevê ou games no computador; só
participar de atividades esportivas ou recreativas com chance de medalha, de
ouro, é claro; não brincar e muito menos dormir na casa das amigas; atividades
extracurriculares, somente as escolhidas pela mãe; tocar obrigatoriamente dois
instrumentos, desde que seja violino e piano; etc.
Aos pais tigres, rudes, severos e opressores contrapõem-se os pais
pandas, desmedidos no elogio, ternura, conforto. Mínimas exigências, muitos
presentes em vez de uma presença com ensinamentos e dedicam horas relatando os
prodígios do filho. Acima de tudo o afeto e exacerbam nos encômios para manter
elevada a autoestima. Geram expectativas irreais e certamente, quando adulto, o
seu rebento será acometido de desmesuradas frustrações, pois as pessoas e as
empresas pouco ou nada valorizam a autoestima sem o complemento do esforço,
trabalho, disciplina e determinação.
O livro de Amy, já traduzido em mais de 30 países, polemizou ao extremo,
e os debates emanaram calor, mas também fachos de luz sobre a mais difícil das
artes: educar filhos. A tiger-mon, uma típica representante do amor exigente,
acredita em suas convicções e assevera que, para a cultura chinesa, os filhos
são fortes, aguentam uma rotina espartana de estudos, enquanto os ocidentais
(os americanos, em particular) os pressupõem frágeis, e qualquer gesto duro pode
traumatizá-los.
Até onde a vista alcança, ter sido igualmente exigente com as duas
filhas, sem se importar com suas individualidades, talvez tenha sido o maior
dos erros. A mais velha, Sophia, reconhece no New York Post que “agora, com 18
anos, (...) quase deixando a caverna do tigre, sou grata pela maneira que meus
pais me educaram e não sofri com todas as pedras e flechas da mãe-tigre. Você
nos ensinou que precisamos de esforços em tudo, até para sermos criativos.
Desejo viver uma vida significativa e viver plenamente é saber que tentei
atingir com o corpo e a mente, os limites do meu potencial. Se eu morresse
amanhã, morreria com o sentimento que vivi a minha vida em 110%.”
No entanto, os rigores com um mínimo de liberdade promoveram intensa revolta
na filha mais nova, Louisa, a partir dos 13 anos. Forçada pela mãe a comer uma
iguaria que não lhe apetecia, em um bistrô de Moscou, arremeteu furiosamente um
copo no chão, sob os gritos “eu te odeio”. Este e outros episódios de confronto
fizeram com que a mãe-tigre fosse mais concessiva.
Ser exigente sem ser extremado. Quando exercida com equilíbrio, a
autoridade é uma manifestação de afeto. E é relevante que nós pais tenhamos no
intelecto e no coração um preceito consensual entre os educadores: foi-se o
tempo das exigências padronizadas. A suprema sabedoria é cobrar resultados,
respeitando a individualidade e promovendo as potencialidades e limitações dos
filhos. Reconheço o quão difícil é a prática e, em tom de gracejo, costumo
dizer aos pais da escola, com dois ou mais filhos: antes de nascerem, eles já
combinaram de um ser diferente do outro, para aborrecer pai e mãe.
VENTURI, Jacir J.
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