cliptomania
O RETIRANTE APROXIMA-SE DE UM DOS CAIS DO
CAPIBARIBE
—
Nunca esperei muita coisa,
é
preciso que eu repita.
Sabia
que no rosário
de
cidade e de vilas,
e
mesmo aqui no Recife
ao
acabar minha descida,
não
seria diferente
a
vida de cada dia:
que
sempre pás e enxadas
foices
de corte e capina,
ferros
de cova, estrovengas
o
meu braço esperariam.
Mas
que se este não mudasse
seu
uso de toda vida,
esperei,
devo dizer,
que
ao menos aumentaria
na
quartinha, a água pouca,
dentro
da cuia, a farinha,
o
algodãozinho da camisa,
ao
meu aluguel com a vida.
E
chegando, aprendo que,
nessa
viagem que eu fazia,
sem
saber desde o Sertão,
meu
próprio enterro eu seguia.
Só
que devo ter chegado
adiantado
de uns dias
o
enterro espera na porta:
o
morto ainda está com vida.
A
solução é apressar
a
morte a que se decida
e
pedir a este rio,
que
vem também lá de cima,
que
me faça aquele enterro
que
o coveiro descrevia:
caixão
macio de lama,
mortalha
macia e líquida,
coroas
de baronesa
junto
com flores de aninga,
e
aquele acompanhamento
de
água que sempre desfila
(que
o rio, aqui no Recife,
não seca, vai toda a vida).
0 Comentários
Seu comentário será publicado em breve e sua dúvida ou sugestão vista pelo Mestre Blogueiro. Caso queira comentar usando o Facebook, basta usar a caixa logo abaixo desta. Não aceitamos comentários com links. Muito obrigado!
NÃO ESQUEÇA DE SEGUIR O BLOG DO MESTRE NAS REDES SOCIAIS (PELO MENU ≡ OU PELA BARRA LATERAL - OU INFERIOR NO MOBILE) E ACOMPANHE AS NOVIDADES!