“A Globalização funciona como uma lente de aumento
que permite à população mundial não apenas enxergar as implicações internacionais
dos problemas locais, mas também seus efeitos colaterais nas suas vidas.”
Para muitos, a globalização, entendida
como mundialização do mercado, é um avanço cujos efeitos negativos podem ser
corrigidos. Para outros, representa, de fato, a ocidentalização do mundo, com o
objetivo de atender aos interesses do capitalismo em sua fase mais avançada: a
da transnacionalidade dos oligopólios empresariais.
Concordo com aqueles que consideram que o
atual modelo de globalização não passa de um clichê demagógico de quem busca
impor ao planeta um pensamento único – o de uma parcela privilegiada do
hemisfério Norte, onde 20% da população mundial consome 80% da produção
industrial do planeta – com caráter de universalidade incontestável.
Não é a economia que se mundializa, é o
mundo que se economiciza, convertendo todos os valores, materiais e simbólicos,
ao preço de mercado. Tal fenômeno submete a cultura e a política à lei da
oferta e da procura. Como a teoria econômica não fixa nenhum limite ao império
do mercado, tudo que é objeto do desejo humano é reduzido às relações de troca,
segundo as regras do sistema: um dos parceiros leva mais vantagem do que o
outro.
[...] A agenda política dos países passa a
ser ditada, cada vez mais, pelos interesses das transnacionais e, cada vez
menos, pelas reais necessidades nacionais. A política abandona progressivamente
sua função de administrar o progresso econômico e social interno, para gerir
estratégias econômicas impostas aos países de fora para dentro.
No plano cultural, a criatividade tende a
abandonar as ousadias do espírito humano para adequar-se à forma do mero
entretenimento, como os enlatados que entopem nossos canais de TV.
Toda a comunicação de massa torna-se mero
apêndice publicitário, voltada mais a formar consumidores que cidadãos. A
internet, embora represente uma revolução estrutural apresentada como um
veículo de informação global, é um produto cujos conteúdos e tecnologia são monopólios
ocidentais.
Depara-se, hoje, com um grande paradoxo:
quanto mais se fala em liberdade de informação, mais os meios são enfeixados em
mãos de grandes atores econômicos que impõem a todos os habitantes do planeta
um mesmo modo de pensar e de viver. Tudo em função dessa soberana senhora: a
mercadoria. É a mcdonaldização do mundo, reduzido também a um só paladar.
BETTO, Frei. SADER, Emir.
(Crônica
publicada na edição de Outubro de 2002 da revista Rainha dos Apóstolos, página
14)
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