Cafezais: a polêmica troca dos colhedores pelas colhedoras


A minha cidade é um lugar simples, pequeno e de povo humilde. Localizada no extremo sul da Bahia, Itabela possui uma população de apenas 26.704 habitantes. Em 2010, completou vinte e um anos de emancipação política e, mesmo sendo jovem, ela é muito importante para a economia da região. Meu município é destaque como maior produtor de mudas certificadas de café Conilon, possuindo apenas um viveiro, o São Francisco, localizado a 2 quilômetros do centro da cidade. A nossa identidade está na produção do café.
A colheita desse produto é a garantia do sustento de muitas famílias e também fator primordial para circulação da economia municipal. A tecnologia chegou aos nossos cafezais. Mas vale perguntar: “Como conciliar a mecanização das lavouras com o trabalho dos colhedores de café?”
Conforme o representante do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Itabela, Idalício Viana, a cidade já é conhecida por sua tradicional festa do café Conilon e em sua edição mais recente ele definiu o evento como uma verdadeira amostra de tudo o que há de mais moderno em tecnologia aplicada à produção.
O fato é que com o advento das máquinas para nossa região será difícil sobreviver aqui. Os colhedores de café têm baixo nível de escolaridade e o município não possui infraestrutura para profissionalizá-los e/ou empregá-los, fazendo com que esses trabalhadores sejam substituídos pelas máquinas e procurem formas alternativas de trabalho em outros lugares.
Por um lado, alguns profissionais da área se opõem ao processo de mecanização, alegando que, além do desemprego gerado, as máquinas colhedoras podem diminuir a produtividade da lavoura ao longo do tempo, pois causa o desfolhamento e alteração da qualidade do produto devido à não seleção dos grãos, sem contar com o alto custo das máquinas, a manutenção delas e a demanda de áreas maiores, já que o espaçamento entre as fileiras da lavoura mecanizada deve ser mais largo para permitir a passagem das máquinas.
Por outro lado, produtores favoráveis à automatização acreditam que a utilização das maquinas é muito importante para o desenvolvimento do nosso município, uma vez que uma colhedora produz em um dia o equivalente a duzentos e cinquenta colhedores, segundo dados da Universidade Federal de Lavras (Ufla), especializada no setor agropecuário.
Penso que a saída viável seria a aplicação da Lei Geral Municipal para Micro e Pequenas Empresas. Essa lei favoreceria ambas as partes – cafeicultores e trabalhadores. Entre os vários benefícios estão: desburocratização dos fiscos; auxílio bancário a juro zero; preferência de mercado em compras públicas, de licitação no valor de até 80.000 reais, e outras vantagens.
Enfim, com a lei em vigor, os produtores investiriam mais no cultivo do café, devido às credibilidades adquiridas, o que acarretaria uma demanda maior de colhedores. Dessa forma daria para associar as duas formas de colheita, se vivêssemos apenas em mais uma região explorada e invadida pelas colhedoras, que expulsam dos cafezais seus habituais colhedores.

VASCONCELOS, Carla Mylena Santos. 

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