Relações de Consumo

     Para começar, façamos um paralelo entre o consumo dos países centrais (ricos) e dos países semiperiféricos (emergentes) e periféricos (pobres). Oitenta por cento da produção mundial é consumida por 15% da população mundial, que pertence aos países centrais. Não isentando os demais países por parte do consumo de supérfluos, o fenômeno do consumo exagerado não pode ser descrito entre pessoas que não têm o mínimo necessário à sua sobrevivência. Portanto, é entre a parcela que possui bom poder aquisitivo que ocorre o fenômeno do consumo alienado.
O homem precisa de objetos exteriores para seu uso e realização (esta é uma verdade cada vez mais latente) e produz estes objetos, através do seu trabalho ou da aquisição por compra, para o seu consumo. Através dessa necessidade é que surge a relação produção-consumo, em que ambas as partes são interligadas: quando há produção, matéria-prima, energia e força de trabalho são consumidas. Para que haja produção, é necessário que haja a necessidade do produto final ou que surja esta necessidade (o que se faz por meio da propaganda, característica marcante do cofundador da Apple, Steve Jobs [24.fev.1955 / 05.out.2011], por exemplo.).
Dessa forma, a propaganda á o carro chefe a sociedade capitalista, porque cria a necessidade de consumir. E esse consumo gera a exigência de nova produção, em um ciclo vicioso. O ato de comprar não é apenas satisfazer uma necessidade do indivíduo, mas sustentar cadeias industriais e exibir status e riqueza. O ‘ser’ e ‘ter' passaram a ser intimamente ligados, outra consequência do consumo alienado: nem todos podem ter acesso aos bens de consumo e isso demarca a iniquidade entre indivíduos. Nas palavras de Baudrillard:

         “o prazer de mudar de vestuário, de objetos, de carro, vem sancionar psicologicamente constrangimentos de diferenciação social e de prestígio.”
BAUDRILLARD, Jean. Para uma crítica da economia política do signo, pág. 38.

 A propaganda enfatiza essas diferenças como forma de induzir pessoas a consumir, associando marcas e grifes a comportamentos e padrões inacessíveis à maioria, como se os produtos apresentados não fossem produzidos em larga escala e assim quem os consumisse se tornaria único em meio à multidão. Os publicitários sabem disso e exploram esta fragilidade humana, o consumo se torna alienado porque o indivíduo não compra o que realmente necessita e não se sente satisfeito: precisa cada vez mais comprar e comprar, o que pode se tornar um vício tão grave quanto o consumo excessivo de álcool e o consumo de drogas. Veja o poema abaixo:

       “Estou, estou na moda
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.”
Excerto de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu etiqueta (poema)

       A satisfação é transferida para o ato de comprar e não pelo fato de possuir algo útil a partir da aquisição do bem material. E esta satisfação vai-se tornando volátil: em pouco tempo é preciso comprar mais para renovar a sensação de encanto. Junto a esta característica, as empresas também utilizam-se da obsolescência programada, ou seja, em pouco tempo produtos industriais tornam-se ultrapassados ou são fabricados com componentes de baixa qualidade a fim de que durem pouco; com essas duas técnicas (obsolescência programada e propaganda), as indústrias evitam o arrefecimento do ritmo de produção e geram consumidores alienados na mesma escala.
Consumir com consciência é ajudar o planeta, manter as finanças equilibradas, evitar o descarte de objetos que ainda poderiam ser úteis, valorizar mais o que se tem e por consequência o que se vier a ter... Não é uma tarefa simples, porque inclui contrariar valores que estão firmemente arraigados na sociedade e o consumo baseia-se neste jogo de ser único e pertencer ao grande grupo; porém os benefícios supracitados compensam o esforço. 

Veja também: (Literatura) Autorretrato

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