Segundo Karl Marx, um dos idealizadores do socialismo, o homem trabalha não só por instinto, mas planeja mentalmente o que será feito e sente-se realizado com seu trabalho concluído. Marx exemplifica, em sua obra “O capital”, desta forma:
“Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e
a construção das colmeias pelas abelhas atinge tal perfeição que envergonha
muitos arquitetos. Mas o que distingue o pior dos arquitetos da melhor das
abelhas é que ele projeta mentalmente a construção antes de realiza-la. No
final do processo de trabalho obtém-se um resultado que, desde o início, já
existia na mente do trabalhador. Pois o homem não transforma apenas o material
que trabalha. Ele realiza no material o projeto que trazia em sua consciência.
Isso exige, além do esforço físico dos órgãos que trabalham, uma vontade
orientada para um objetivo, vontade que se manifesta pela atenção e controle
das operações durante o tempo de trabalho.”
MARX, Karl. O capital. I.I, seção
III, capítulo V.
Pensemos então sobre o papel do trabalho:
nas perspectivas atuais, o trabalho tornou-se massivo e o homem não vê em seu
trabalho uma obra sua, trata-se da alienação do indívíduo proposta pelo sistema
fordista. A função do trabalho pode ser vista,
por exemplo, sob duas perspectivas:
- Em seu aspecto individual: o trabalho
permite ao homem expandir suas energias, desenvolver sua criatividade e
realizar suas potencialidades. Através dele o ser humano pode moldar e mudar a
realidade sociocultural, bem como transformar a si próprio.
- Em seu aspecto social: com esforço
conjunto dos membros de uma comunidade, o trabalho objetiva a manutenção e
satisfação da vida e o desenvolvimento da sociedade.
Assim, dentro dessas visões positivas e
ideais, o trabalho seria fonte de realização pessoal, edificante culturalmente
e solidariamente entre pessoas.
Ocorre que, de seu caráter potencial
libertador, o trabalho estaria perdendo seu poder libertador. De que forma?
Ao longo dos tempos, com a dominação de classes
por outras, o trabalho desviou-se destas funções supracitadas. Ao invés de
servir ao bem comum, serviu para o enriquecimento de alguns. De ato de criação
virou rotina de reprodução. De recompensa pela liberdade transformou-se em
castigo e instrumento de alienação. Então surge uma terceira finalidade para o
trabalho, que é colocada como prioridade sobre as demais: a obtenção do
sustento e do lucro. Muitos indivíduos escolhem suas profissões ou simplesmente
trabalham em determinados setores da sociedade civil motivados apenas pelo
retorno financeiro.
Marx
usa o termo alienação para indicar que o trabalho massivo do capitalismo, faz
com que o homem transfira suas potencialidades para os produtos industriais e
não reconheça ali alguma obra sua, já que não possuem traços de sua
criatividade. Os produtos são “estranhos” a quem os produziu.
“Primeiramente, o trabalho alienado se apresenta como algo
externo ao trabalhador, algo que não faz parte de sua personalidade. Assim, o trabalhador
não se realiza em seu trabalho, mas nega-se a si mesmo. Permanece no local de
trabalho com uma sensação de sofrimento em vez de bem estar, com um sentimento
de bloqueio de suas energias físicas e mentais que provoca cansaço físico e
depressão. Nessa situação, o trabalhador só se sente feliz em seus dias de
folga enquanto no trabalho permanece aborrecido. Seu trabalho não é voluntário,
mas imposto e forçado.
O caráter alienado deste trabalho é facilmente atestado
pelo fato de ser evitado como uma praga; só é realizado à base de imposição.
Afinal ’o trabalho alienado é um trabalho de sacrifício, de mortificação.’
É um trabalho que não pertence ao trabalhador mas sim à
outra pessoa que dirige a produção.”
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos, 1º
Manuscrito, XXIII.
É válido ressaltar que, etimologicamente,
o termo trabalho vem do latim tripalium, nome de um instrumento de
tortura feito de três paus. Não há exagero em afirmar que mesmo nos dias de
hoje, o trabalho ainda serve para torturar e triturar o trabalhador. Mesmo em
um mundo que aparentemente aboliu a escravidão, são descobertos casos de
trabalho em regime de escravidão baseados no tráfico de pessoas. Veja o excerto
abaixo:
O que é trabalho escravo?
Escravidão contemporânea é o trabalho
degradante que envolve cerceamento da liberdade
“A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888,
representou o fim do direito de propriedade de uma pessoa sobre a outra,
acabando com a possibilidade de possuir legalmente um escravo no Brasil.
No entanto, persistiram situações que mantêm o trabalhador
sem possibilidade de se desligar de seus patrões. Há fazendeiros que, para realizar
derrubadas de matas nativas para formação de pastos, produzir carvão para a indústria
siderúrgica, preparar o solo para plantio de sementes, entre outras atividades agropecuárias,
contratam mão de obra utilizando os contratadores de empreitada, os chamados
“gatos”. Eles aliciam os trabalhadores, servindo de fachada para que os fazendeiros
não sejam responsabilizados pelo crime.
Trabalho escravo se
configura pelo trabalho degradante
aliado ao cerceamento da liberdade. Este segundo fator nem sempre é visível, uma vez
que não mais se utilizam correntes para
prender o homem à terra, mas sim ameaças físicas, terror psicológico ou mesmo
as grandes distâncias que separam a propriedade da cidade mais próxima.”
Adaptado de: www.reporterbrasil.org.br.
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